sexta-feira, 31 de julho de 2020

É hora de cuidar da mente. E a tecnologia pode ajudar

Assim como dormir, se alimentar e praticar atividade física, cuidar da saúde mental se tornou primordial para que tudo caminhe com equilíbrio em nossa vida, principalmente atualmente com o turbilhão de emoções, sensações, anseios e medos por causa da pandemia de Covid-19.

Transtornos psicológicos como ansiedade e depressão nunca foram assuntos tão discutidos e pautados pela mídia, principalmente porque os casos estão em constante crescimento. Um levantamento da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostra que, no Brasil, a ansiedade já atingiu mais de 18 milhões de pessoas e existem mais de 12 milhões de cidadãos diagnosticados com depressão. Isso coloca nosso país como o maior contingente de indivíduos com o problema na América Latina.

Tais números só reforçam quanto a sociedade não tem dado a devida atenção ao estado psicológico. Observar as mudanças a que a mente está exposta e seus reflexos no corpo é de extrema importância, sobretudo quando o sono não é mais reparador como antes, o cansaço domina cada vez mais, a incerteza sobre o dia de amanhã está mais presente e o medo passa a ser frequente. E o perigo cresce quando experiências e situações não usuais começam a fazer parte da rotina, gerando insegurança e impotência.

Acredito que o principal erro do ser humano seja não dar atenção aos sinais e deixar para amanhã o que pode ser resolvido hoje. Até porque com a saúde não se brinca. Mesmo em períodos de isolamento social, há diferentes formas de aliviar a mente e colocar para fora as angústias. A verdade é que a tecnologia nunca aproximou tanto os indivíduos como agora. Se conversar com as pessoas que estão próximas a você não está colaborando, talvez seja hora de procurar atendimento profissional. E hoje isso pode acontecer online.

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Existem inúmeras soluções tecnológicas que romperam a distância e a dificuldade de as pessoas se abrirem, disponibilizando, de acordo com seu orçamento, profissionais especializados que orientam a melhor forma de manter a saúde mental em dia. Outra opção tem sido os aplicativos que promovem terapia guiada. Nesse caso, o principal objetivo é auxiliar no processo de autoconhecimento, controlar a ansiedade e o estresse, proporcionar exercícios de meditação, entre outros pontos essenciais ao equilíbrio emocional.

Se me cabe dar um conselho, se desligue do mundo externo em alguns momentos e cuide da sua mente. Não feche os olhos para algumas evidências que podem ser indicativos de problemas e não tenha vergonha de procurar ajuda. Afinal, precisamos de leveza para seguirmos em frente!

* Dr. Diogo Lara é psiquiatra, PhD em neurociências, psicoterapeuta, ex-professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e CEO e fundador do aplicativo Cíngulo



Conscientização do câncer na região de cabeça e pescoço deve ser constante

Estamos finalizando o Julho Verde, mês de conscientização sobre tumores nas regiões de cabeça e pescoço, que, apesar de serem pouco visados, estão em 5º lugar na lista de incidência entre homens e mulheres. Neste ano, eles devem representar 7,9% dos novos casos de câncer estimados pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca).

Infelizmente, três em cada quatro pacientes são diagnosticados já em estágio avançado, e alguns motivos são determinantes aqui: esses tumores usualmente apresentam crescimento rápido, os sintomas são inespecíficos e, frequentemente, desvalorizados pelos pacientes logo no início, além das limitações da rede básica de atenção à saúde. Sem falar no próprio desconhecimento sobre o câncer nessas áreas do corpo. Dessa maneira, nosso trabalho para alertar a população deve ser constante.

Os tumores mais comuns nessas regiões são os da orofaringe (cavidade oral) e da laringe. Mas é importante ressaltar que a área que chamamos de cabeça e pescoço é composta por várias estruturas diferentes. Algumas delas são facilmente visualizadas, como lábios, gengiva, língua e amígdalas. Outras, nem tanto, a exemplo de laringe, faringe e seios da face – não à toa, precisamos da ajuda de equipamentos para avaliá-las.

Para flagrar o quadro o quanto antes, é crucial ter atenção aos seguintes sintomas: dor ou dificuldade ao engolir, caroços que surgem na região do pescoço, feridas que não cicatrizam ou sensação de irritação constante. Se sentir algo assim e perceber que não há melhora em um intervalo de duas ou três semanas, busque um profissional de saúde o mais rápido possível.

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Caminhos para a prevenção

É fundamental termos a noção de que certos hábitos no nosso dia a dia aumentam a probabilidade de desenvolvermos algum tipo de doença. Assim, conseguimos fazer a nossa parte quanto à prevenção.

No caso dos tumores de cabeça e pescoço, os fatores de risco mais importantes são o tabagismo e o consumo de bebidas alcoólicas. Portanto, abandonar o cigarro e evitar o excesso de álcool (especialmente cachaça, uísque, vodca e outros tipos com alto teor alcoólico) são as principais ações para se proteger de tumores dessas regiões.

Agora, é essencial lembrar que todos nós apresentamos um risco basal de termos qualquer doença. Isso significa que, mesmo na ausência dos fatores de risco clássicos, os sintomas mencionados anteriormente precisam ser valorizados e avaliados da mesma maneira.

O diagnóstico e seus desafios atuais

Esse conjunto de tumores pode ser confirmado com o auxílio de exames relativamente simples, incluindo ultrassonografia, tomografia computadorizada ou ressonância magnética da região de face e pescoço, além de biópsias de lesões superficiais. Tais procedimentos costumam ser suficientes para permitir à equipe médica recomendar os tratamentos necessários.

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Uma fonte de preocupação atual é a pandemia do novo coronavírus e o receio da população em manter rotinas de consultas e exames. Em relação aos cânceres de forma geral, incluindo aí os da região de cabeça e pescoço, estima-se que haverá um aumento no número de casos identificados só em estágio mais avançado, diminuindo, portanto, as chances de cura.

O tratamento também deve ser afetado, já que a infraestrutura de saúde teve que ser disponibilizada para o cuidado dos pacientes contaminados pelo coronavírus em situação grave. Tratamentos de radioterapia ou cirurgias tiveram que ser postergados, e ainda não é possível avaliar a dimensão do impacto negativo em decorrência dessas mudanças.

A recomendação dos especialistas é clara: é necessário manter a rotina de exames preventivos e procurar um médico caso haja algum dos sintomas já citados. Basta seguir todos os protocolos de segurança e higiene. Reforço: quanto mais precoce é o diagnóstico, maior a chance de cura do paciente.

As boas notícias

Partindo para o lado positivo: há boas perspectivas tanto em termos de prevenção como de tratamentos. Mais recentemente, começamos a aprender que a infecção pelo HPV (o mesmo vírus causador do câncer do colo uterino) está associada com o aumento da incidência de câncer de orofaringe, por exemplo. Logo, acreditamos que a vacinação contra o HPV, amplamente disponibilizada no nosso país, possa ajudar a reduzir os casos desse tipo de câncer no futuro. Ou seja, é possível, sim, atuar na prevenção da doença.

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Já para tratar esse paciente com câncer de cabeça e pescoço, uma das maiores novidades é a imunoterapia. São medicamentos que usam o sistema imunológico do próprio paciente para combater as células tumorais. Essa estratégia tem se mostrado mais efetiva que a quimioterapia convencional para reduzir o tumor e mantê-lo sob controle por mais tempo.

Novidades também surgem no campo da radioterapia, em que as técnicas mais recentes conseguem diminuir a área de irradiação e, com isso, minimizar os efeitos colaterais do tratamento – sem perder a eficácia.

Devemos perseverar e fazer com que o Julho Verde tenha a mesma atenção e visibilidade que campanhas mais antigas, como o Outubro Rosa e o Novembro Azul. Afinal, só uma sociedade bem informada tem maior capacidade de lutar contra uma doença tão complexa e grave como o câncer, incluindo os da região de cabeça e pescoço.

*Dr. Augusto Mota é oncologista da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e Coordenador do Comitê de Tumores de Cabeça e Pescoço.



Estudo colaborativo avalia a Covid-19 em pessoas com síndrome de Down

Febre, tosse e dificuldade para respirar e sintomas nasais são as manifestações mais comuns da Covid-19 em pessoas com síndrome de Down. Além disso, para quem tem essa condição genética, as chances de o contágio pelo novo coronavírus se agravar é maior a partir dos 40 anos de idade, enquanto na população geral os riscos são maiores após os 60 anos. É o que mostram os resultados preliminares de um estudo colaborativo internacional para identificar como a Covid-19 se manifesta em quem tem Down.

Realizado pela T21 Research Society (T21 RS) com apoio de organizações internacionais, pesquisadores de países como Estados Unidos, Espanha, Reino Unido, Brasil e França estão coletando informações para entender os riscos e a evolução da Covid-19 em pessoas com Down e, assim, responder às seguintes questões: elas são mais vulneráveis? A gravidade do quadro está relacionada às condições de saúde pré-existentes? Até o fim de maio foram respondidos 329 formulários. As informações estão sendo captadas por meio de questionários preenchidos por médicos ou familiares próximos de pessoas com essa condição genética.

Os primeiros resultados do estudo, que continua acontecendo, mostram que os sintomas nasais, como congestão nasal e coriza, são mais comuns entre quem tem Down. E a falta de ar está normalmente associada à internação. Ou seja, é um sintoma que precipita a admissão no hospital. Mas, o principal achado até agora é que, embora a proporção de mortes nesse público seja semelhante ao da população em geral, o risco de desfecho fatal entre pacientes com Down é maior a partir dos 40 anos.

“O organismo de quem tem Down envelhece mais precocemente. A partir da quarta ou quinta década de vida essas pessoas já podem apresentar declínio cognitivo ou outras condições de saúde associadas, e muitos podem evoluir para a demência e doenças como o Alzheimer. Assim, esse estudo sugere que, a partir dos 40 anos, a população com Down já é a de maior risco para a Covid-19”, explica Ana Claudia Brandão, pediatra do Hospital Israelita Albert Einstein, pesquisadora em Síndrome de Down e uma das responsáveis pelo estudo no Brasil.

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Para participar

A pesquisa deve durar dois anos e contempla pessoas com síndrome de Down de qualquer sexo ou idade que tiveram sintomas da Covid-19 ou testaram positivo para a doença. Para ajudar no estudo, o médico ou familiar dessa pessoa precisa preencher questionário da pesquisa que será enviado após solicitação pelo e-mail covid19@federacaodown.org.br

Mensagens importantes

* As formas de transmissão do novo coronavírus e contágio são iguais para todas as pessoas: por meio da dispersão de gotículas de secreção das vias aéreas de um indivíduo contaminado por meio da tosse, espirro e até fala. Além disso, estudos têm mostrado que o vírus contamina o ambiente e pode sobreviver em superfícies (como mesas, botões de elevador, utensílios domésticos e de escritório) por períodos prolongados.

* O estudo da T21 Research Society pretende descobrir se pessoas com Down são mais vulneráveis e se podem ficar em estado mais grave. Mas, no geral, a manifestação clínica habitual da Covid-19 em pacientes com ou sem Down é a mesma. Ou seja: febre e sintomas do trato respiratório superior (coriza, dor de cabeça, congestão nasal e dor de garganta). O que pode mudar é como as pessoas com Down percebem e expressam os sintomas. Por isso, é essencial ficar atento aos sintomas e às alterações comportamentais que podem indicar que algo não está bem.

Esse texto é da Agência Einstein



quinta-feira, 30 de julho de 2020

Estudo discute caminhos para evitar novas pandemias como a do coronavírus

Até agora, o gasto mundial para conter os danos da Covid-19 está na casa dos U$2,6 trilhões, valor que pode aumentar em até 10 vezes. Por outro lado, U$30 bilhões ao ano seriam suficientes para evitar que uma nova pandemia como a do coronavírus dê as caras de surpresa, causando estragos irreparáveis na saúde e na economia.

Essa é a conta de pesquisadores da Universidade de Princeton, uma das mais prestigiadas do Estados Unidos, publicada em artigo no periódico Science. O trabalho foi realizado em conjunto por economistas, biólogos, epidemiologistas e outros especialistas em conservação ambiental.

O grupo afirma que a destruição das florestas tropicais e o comércio de animais selvagens são dois dos fatores que mais contribuem para o surgimento de patógenos com potencial epidêmico. Nos últimos anos, eles favoreceram, por exemplo, o aparecimento do HIV e do ebola. Agora, veio a Covid-19.

Isso porque a cada dois ou quatro anos, argumentam os autores, um vírus restrito aos animais “pula” para os humanos. Eventos do tipo andam mais comuns em decorrência do desmatamento, que diminui o hábitat natural de uma série de espécies capazes de transmitir esses micro-organismos aos humanos.

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Nem sempre a descoberta de um novo micro-organismo resultará necessariamente em uma pandemia. Mas a preservação do meio ambiente, o monitoramento constante de animais criados em fazendas (como porcos e bois) e a limitação do consumo e da venda de animais selvagens poderiam minimizar esse contato com novos vírus e ajudar a detectar precocemente ameaças como o Sars-CoV-2.

Tais intervenções custariam a todas as nações somadas um investimento entre U$20 e U$30 bilhões de dólares, calcula o artigo. Como comparação, este número equivale a 1 ou 2% do orçamento militar dos dez países mais ricos do mundo.

O comércio de animais selvagens

Todas as evidências apontam, até o momento, que o Sars-CoV-2 surgiu de uma espécie de morcego vendida para consumo humano na cidade de Wuhan, na China. Esse fato deu origem a um monte de atitudes preconceituosas, mas a verdade é que muitas pessoas dependem desse comércio para viver e se alimentar, pontuam os cientistas.

A solução, na visão dos pesquisadores, seria regular melhor a venda dos animais selvagens em comunidades que se sustentam assim, além de impedir e punir legalmente a negociação de certas espécies como artigos de luxo e para criação em cativeiros ocidentais.

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Cerca de U$500 milhões bastariam para isso. Eles deveriam ser investidos no treinamento de pessoas para manuseio dos animais, na detecção precoce de possíveis novos patógenos e na fiscalização ostensiva de vigilância sanitária em toda cadeia de produção desse tipo de carne – da caça à venda nos mercados.

Para ter ideia, a Convenção sobre Comércio Internacional de Espécies Selvagens Ameaçadas da Fauna e Flora (Cites, na sigla em inglês), organização internacional responsável por essa vigilância, conta agora com um orçamento de apenas U$6 milhões ao ano.

Protegendo as florestas

A conservação das florestas protege tanto a vida selvagem quanto a população humana, já que reduz o risco de contato com uma infinidade de vírus e bactérias ainda desconhecidos. Com o desmatamento, surgem mais áreas limítrofes, onde esses dois mundos passam a coexistir e, dessa maneira, a probabilidade do contato direto ou indireto (pela contaminação de um animal criado em uma fazenda, por exemplo) aumenta.

Fora isso, as mudanças climáticas, que tornam algumas áreas naturais inóspitas e alteram cadeias alimentares inteiras, podem forçar a migração de determinadas espécies para mais perto dos centros urbanos, o que também colabora na disseminação de novos patógenos.

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Os pesquisadores de Princeton estimam que as taxas de desmatamento poderiam cair pela metade com investimentos entre U$1,5 e U$9 bilhões ao ano.



A corrida de obstáculos de um paciente com asma grave

A asma é uma das doenças crônicas mais prevalentes: afeta cerca de 334 milhões de pessoas em todo o mundo, e 13% da população brasileira. Uma parcela pequena de asmáticos (3 a 10%) apresenta a chamada asma grave. Ocorre que essa pequena faixa de pacientes consome até seis vezes mais recursos do que os indivíduos com versões leves ou moderadas do problema. Ela contabiliza 60% dos custos totais com asma, além de representar a maior parte das 250 mil mortes pela doença que ocorrem anualmente no planeta (e das cinco mortes por dia no Brasil).

A asma grave impõe um grande impacto negativo na qualidade de vida, podendo gerar muitas crises e perda de função pulmonar. Essa população também sofre com os efeitos colaterais dos medicamentos usados para aliviar as crises, apresenta alta taxa de mortalidade e profundas consequências negativas nas esferas psicológica e social.

Não é fácil — nem para o paciente, nem para o médico —, reconhecer o diagnóstico de asma grave. Uma parcela muito pequena desses indivíduos está sendo acompanhada por pneumologistas com experiência em conduzir o quadro. São pessoas que vão constantemente ao pronto-socorro, usam corticoides orais em altas doses durante as crises… Elas consomem mais de uma unidade de broncodilatador de alívio por mês (a qual contém 200 doses), muitas vezes sem supervisão médica, e até já foram internadas em UTI.

Mesmo com cuidados de uma equipe com experiência em tratar asma grave (geralmente em centros universitários), são necessários no mínimo seis meses para fechar o diagnóstico. É preciso fazer exames e afastar outras possíveis doenças por trás dos sintomas. Esse tempo também inclui o manejo, quando possível, de situações que podem agravar qualquer quadro de asma (rinite, refluxo gastroesofágico, ansiedade, exposição ambiental a alérgenos, tabagismo ativo e passivo etc). Ao lidar com essas questões, muitas vezes os sintomas já são bastante amenizados.

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Sem dúvida, o fator mais importante do descontrole da doença tem sido a má adesão ao tratamento, em especial ao corticóide inalatório (o pilar do tratamento do asmático). Quando esse fator é corrigido, só uma pequena parcela de asmáticos continua descontrolada. Essa dificuldade de adesão medicamentosa passa por fatores culturais, financeiros e, principalmente, pela ausência do que chamamos de educação em asma. Em resumo, é conhecer a doença, sua abordagem e suas consequências, aprender a usar dispositivos inalados, saber como agir numa crise de exacerbação e por aí vai.

Mas, como eu disse, após todo esse processo de otimização do tratamento, alguns pacientes ainda permanecerão sintomáticos e tendo crises de exacerbação. E mesmo para eles, que já estão usando doses altas de corticóide inalado, associado a uma ou mais medicações para o controle da enfermidade, hoje há o que fazer. Me refiro às drogas imunobiológicas disponíveis no Brasil (Anti IgE e Anti IL 5), que podem ser usadas com o objetivo de atingir o controle da asma grave.

Os imunobiológicos apresentam indicação precisa. De acordo com características fisiopatológicas, algumas pessoas recebem o Anti IgE e outras, o Anti IL 5. Uma parcela de pacientes tem indicação para ambas as classes terapêuticas — porém, infelizmente, um grupo de asmáticos graves ainda não se beneficia de nenhuma dessas categorias medicamentosas.

A jornada que o asmático grave atravessa até chegar a uma medicação efetiva para o controle de sua doença é árdua e cheia de obstáculos. No entanto, o apoio de uma equipe médica bem preparada e com experiência facilita esse caminho.

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E esse trajeto pode ter menos obstáculos a partir de uma consulta pública da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que pode viabilizar, por meio dos planos de saúde, a disponibilização das terapias de última geração com potencial para tratar quem possui asma grave, devolvendo a qualidade de vida ao paciente.

Para entender o potencial de abrangência dessas terapias, um estudo recente conduzido pelo médico pneumologista Álvaro Cruz, diretor executivo da Fundação ProAr e membro do Conselho da Iniciativa Global contra a Asma (GINA), mostrou que a maioria dos pacientes com asma grave é elegível aos tratamentos de última geração.

*Leda Rabelo, médica pneumologista, professora do Grupo Magistério Superior da Universidade Federal do Paraná.



Live discute o impacto da pandemia nos pilares do autocuidado

No Dia Internacional do Autocuidado, que foi celebrado em 24 de julho para lembrar a importância de estar atento à própria saúde 24 horas por dia, sete dias por semana, Diogo Sponchiato, redator-chefe de VEJA SAÚDE, recebeu o especialista em qualidade de vida Marcio Atalla para um bate-papo on-line sobre os impactos da pandemia de Covid-19 nas práticas de cuidado consigo mesmo.

O termo autocuidado, aliás, está em alta diante das últimas mudanças impostas. Considerado um direito do cidadão pela Organização Mundial de Saúde (OMS), seu conceito está relacionado a uma abordagem multidisciplinar para cuidar da saúde e prevenir doenças, envolvendo sete pilares principais. São eles: buscar informação e orientação confiáveis sobre saúde; ter uma alimentação balanceada; praticar atividade física regularmente; restringir comportamentos nocivos – como tabagismo e excesso de bebidas alcoólicas; conhecer e respeitar o próprio corpo e a mente; ter uma boa higiene; utilizar medicamentos e outros produtos para a saúde de forma responsável.

Pautados pelos principais resultados de uma pesquisa sobre o tema, conduzida pelo Grupo Abril, com apoio da Associação Brasileira da Indústria de Medicamentos Isentos de Prescrição (Abimip), realizada com população usuária de internet acima de 25 anos, e com mais de 1874 respondentes do país inteiro, o jornalista e o educador físico conversaram por quase uma hora sobre como a pandemia intensificou ou reduziu a frequência da adoção de hábitos saudáveis.

Se você ficou curioso para entender melhor em quais quesitos os brasileiros estão acertando ou falhando, não deixe de conferir a live completa, disponível em todas as plataformas de VEJA SAÚDE (Instagram, Facebook e YouTube) ou diretamente no vídeo abaixo. Os principais resultados também estão compilados em um dossiê objetivo e didático. Vale a pena conferir!

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Os desafios para quem tem diabetes e usa insulina

Mais de 40% dos pacientes com diabetes assumem que deixam de aplicar insulina de vez em quando, mesmo sabendo que ela é necessária. Esse é apenas um dos alertas que a pesquisa Os Altos e os Baixos do Diabetes na Família Brasileira revela. O levantamento, que ouviu 831 indivíduos que usam esse remédio para controlar as taxas de glicemia e 553 familiares de pessoas com a doença, é uma iniciativa do Grupo Abril e de VEJA SAÚDE e contou com o apoio institucional da farmacêutica Novo Nordisk.

Para repercutir os achados da pesquisa, o episódio do Detetives da Saúde desta semana tem a participação do endocrinologista Carlos Eduardo Barra Couri, pesquisador da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), autor da coluna O Futuro do Diabetes e coordenador do Endodebate, evento em que os dados foram apresentados em primeira mão. O médico conversou com o jornalista Diogo Sponchiato, redator-chefe de VEJA SAÚDE.

Como você acompanha ao longo do programa, é possível tirar uma série de aprendizados a partir dos números encontrados pelo estudo. Portadores de diabetes precisam se conscientizar sobre a importância de monitorar a glicemia constantemente, perder alguns vícios no uso da insulina e se cuidar para não enfrentar quadros de hipoglicemia, por exemplo.

Você pode escutar o programa em diversas plataformas. Dá para clicar e ouvir no nosso site mesmo. Também estamos no Spotify, no Deezer, no Google Podcasts, no Pocket Casts, no Youtube… Não sabe como ouvir nesses ambientes? Clique aqui.



quarta-feira, 29 de julho de 2020

Como diminuir o perigo de transmissão da Covid-19 ao sair do isolamento

Já faz mais de quatro meses que recebemos a orientação de manter o isolamento social devido à pandemia do novo coronavírus. E, mesmo com o número de infectados e mortos em alta, parte dos serviços que não são considerados essenciais (parques, restaurantes, salões de beleza, academias e comércio em geral) voltou a funcionar em diversas cidades brasileiras. Pois bem: será que existe alguma forma de, atualmente, frequentar esses espaços (ou alguns deles) com segurança?

Para discutir essa questão, conversamos com o infectologista Marcelo Otsuka, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), e com o epidemiologista Guilherme Werneck, vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).

“Para falar bem a verdade, não é adequado ir a nenhum ambiente diferente nesse momento. Ainda é preferível não sair”, adianta Otsuka.

Mas a realidade é que, por causa do cansaço mental somado à falta de perspectiva de melhora da situação no país, uma parcela até de quem seguiu o isolamento social à risca começou a furar a quarentena. A seguir, debatemos se seria possível, então, minimizar os riscos associados a esse comportamento de acordo com locais específicos.

Antes de apresentar orientações para cada espaço, cabe ressaltar: o distanciamento e o uso de máscara são mandatórios em todos os exemplos descritos abaixo.

Parques

Os dois profissionais apontam que, por se tratar de um ambiente externo, há menor possibilidade de contaminação. “Não existe situação de risco zero, mas os parques representam menos perigo porque são áreas abertas e ventiladas”, comenta Guilherme Werneck.

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Claro, não dá para se descuidar. É crucial evitar contato com as outras pessoas que estiverem por lá, não ir em horários de pico e continuar com a máscara mesmo quando o objetivo for praticar exercício físico.

“Não é necessário fazer um treino puxado. Opte por uma atividade leve ou moderada para que a máscara não interfira na respiração. Isso já é suficiente para manter o condicionamento físico sem prejudicar os outros”, sugere Marcelo Otsuka.

Salões de beleza e barbearias

Após meses em confinamento, tem um monte de gente ansiosa para cortar o cabelo. Segundo Werneck, ir atrás desse e de outros serviços realizados em salões representa um risco médio, já que falamos de locais fechados. “É fundamental garantir que eles estejam funcionando com pouca gente e horário marcado. Prefira salões mais amplos”, orienta.

Otsuka recomenda checar se há espaço entre as cadeiras e se elas são higienizadas antes e depois dos procedimentos. Os instrumentos utilizados também exigem uma bela limpeza. “Sabemos que é complicado cortar o cabelo de máscara, mas todo mundo tem que usar: o cliente e o cabeleireiro”, reforça.

Se o procedimento ficar muito complicado por causa do acessório, o infectologista sugere que você segure a máscara na frente do rosto ao invés de retirá-la totalmente. E não deixe de higienizar as mãos antes e depois do corte.

A melhor pedida é comparecer a um estabelecimento que fique próximo de onde você mora. “Não adianta tomar todos os cuidados dentro do salão e se deslocar até lá em um ônibus lotado”, raciocina Otsuka, da SBI.

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Vale lembrar que alguns cabeleireiros estão atendendo na casa dos clientes. “Isso com certeza minimiza o risco, porque ali você mesmo faz a limpeza. Já no salão passam muitas pessoas que você não conhece. O controle é menor”, reflete o vice-presidente da Abrasco.

Ao escolher o corte caseiro, lembre-se de que a regra da máscara continua valendo.

Consultas médicas

Desde o início da pandemia, profissionais da saúde recomendaram que consultas de rotina fossem adiadas. O ideal era visitar o médico apenas quando isso se mostrasse realmente necessário — tudo para não correr o perigo de se infectar.

“Porém, pacientes com doenças crônicas ou graves, como câncer, diabetes, hipertensão e problemas cardíacos, não podem abdicar do acompanhamento”, informa Otsuka.

“Aqueles que precisam realizar exames periódicos de prevenção de câncer, por exemplo, também não deveriam adiar os procedimentos”, complementa Werneck.

O epidemiologista da Abrasco aconselha que, antes de tomar qualquer decisão de pausar o tratamento ou prorrogar uma avaliação, é imprescindível conversar com o médico que te acompanha — isso pode ser feito pelo celular ou computador.

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Ao marcar um atendimento presencial, basta tomar os cuidados básicos: máscara, distanciamento e limpeza das mãos.

“O ideal é chegar na hora exata da consulta e, assim, não ficar na sala de espera”, ensina Werneck.

Restaurantes

Apesar de eles já estarem autorizados a reabrir em parte das cidades brasileiras, o epidemiologista alerta que frequentá-los faz parte das situações de alto risco.

“O controle é menor. Tem muita gente circulando e não dá para saber se elas estão cumprindo as medidas de prevenção corretamente fora dali. Eu diria que fazer refeições em um restaurante é um luxo que deve ser evitado”, frisa Werneck.

Se decidir ir mesmo assim — no horário de almoço do trabalho, por exemplo —, é bom verificar se as mesas estão espaçadas e higienizadas. Retire a máscara apenas na hora de comer e fique no local o mínimo de tempo possível.

E passe longe dos buffets. A opção mais segura agora são os estabelecimentos que oferecem pratos que constam no cardápio.

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“Não recomendo sentar do lado de fora porque gera uma falsa sensação de segurança. A área aberta normalmente fica na calçada, com pessoas passando perto toda hora”, acrescenta Otsuka.

Bares, academias, centros religiosos, lojas…

Estão aí outros estabelecimentos que também estão abrindo as portas. Entretanto, eles representam uma possibilidade maior de contágio. Isso por dois motivos principais: são fechados e naturalmente geram aglomeração.

“A academia, por exemplo, está em um nível de risco equivalente ao de um restaurante. Eu diria que não é um lugar para frequentar hoje”, enfatiza Werneck.

Ele lembra que é possível se exercitar de outras formas. “Nem sempre temos escolha, mas, nesse caso, a gente tem. E se der para evitar, evite”, avalia.

Certos estúdios que oferecem atividades como pilates ou ioga até conseguem remanejar o esquema de funcionamento, ofertando aulas individuais.

“É um jeito de diminuir a probabilidade de transmissão. Porém, não vamos nos esquecer de que os indivíduos não estão isolados no trajeto. Ninguém é teletransportado de casa até à sala do pilates”, analisa o epidemiologista. O mesmo vale para bares e shoppings.

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“Se você for a qualquer um desses lugares, certifique-se de que estão seguindo os protocolos de segurança”, reitera Otsuka.

Dá para visitar a família?

Ficar longe de quem nós amamos é, provavelmente, uma das coisas mais penosas do isolamento social. “É muito difícil o que estamos vivendo, principalmente para os idosos”, reconhece Werneck.

O epidemiologista acredita que é possível fazer uma ou outra visita aos nossos familiares, desde que tomadas as devidas precauções. Veja: não é para reunir a família inteira para um almoço de domingo.

“Quando for, use máscara, mantenha distância e não tenha contato físico”, aconselha o profissional da Abrasco. Ou seja, nada de abraço, beijo e aperto de mão. A visita deve ser breve. O melhor é que não envolva almoço ou jantar.

Para quem tem quintal, uma dica é levar cadeiras para esse ambiente – mas deixe-as afastadas. “Tem que usar um pouco da criatividade”, brinca o médico da Abrasco.

Caso a saudade aperte, lembre-se de que a distância física dos nossos entes queridos é, no fim das contas, uma verdadeira prova de amor.



terça-feira, 28 de julho de 2020

Diabetes tipo 1 aumenta internações por Covid-19?

Sabemos que pessoas com maior idade e doenças crônicas apresentam maior probabilidade de adquirir as formas graves da Covid-19, necessitando de internação hospitalar e, às vezes, UTI. Mas ainda persistem dúvidas se esse risco de complicações atinge da mesma forma indivíduos com diabetes tipo 1 e tipo 2. Apesar do nome em comum, falamos de doenças bem diferentes.

Pessoas com diabetes tipo 2 costumam ser mais velhas quando diagnosticadas e possuem outros problemas em paralelo, como pressão alta, colesterol e triglicérides elevados e obesidade. Quem tem o tipo 1, por sua vez, normalmente é diagnosticado quando criança ou adolescente e precisa usar insulina desde a detecção da doença para sobreviver (no tipo 2, isso pode acontecer com o tempo ou a piora do estado de saúde).

Isso posto, será que sujeitos com diabetes tipo 1 enfrentam o mesmo risco de quadros graves de Covid-19? Os belgas foram buscar uma resposta. Na Bélgica, existe um sistema de saúde universal informatizado em que todas as pessoas com diabetes tipo 1 são cadastradas e para o qual disponibilizam seus dados.

Dessa forma, pesquisadores avaliaram manualmente internações ocorridas em duas cidades de lá, Aalst e Lovaina, que têm população de cerca de 300 mil e 90 mil pessoas, respectivamente. Durante o período de 1º de fevereiro a 30 de abril deste ano foram cruzadas informações dos 2 336 pacientes com diabetes tipo 1 dessas cidades com as internações por Covid-19.

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E qual foi o achado? Entre mais de duas mil pessoas, apenas cinco (ou 0,21%) precisaram ser hospitalizadas pela infecção por coronavírus. Na população em geral e sem diabetes tipo 1, o número foi de 0,17%. Do ponto de vista estatístico, é praticamente igual! Mais: as cinco internações dos pacientes com diabetes aconteceram em enfermaria, ou seja, eles não necessitaram de UTI.

No mesmo período investigado, os belgas com a doença tiveram maior número de internações por outras condições, como descontrole da glicose, feridas no pé, cirurgia ou parto. Em resumo, hospitalizações usualmente ligadas ao diabetes foram numericamente maiores que aquelas associadas à Covid-19.

O estudo tem limitações. É uma pesquisa observacional de curta duração e não permite dizer que o mesmo fenômeno ocorra em outros países como o Brasil. Além disso, foram avaliados somente adultos. Por outro lado, o trabalho reforça a necessidade de permanecermos atentos ao bom controle da glicose para prevenir as complicações mais conhecidas do problema, inclusive em meio à pandemia.

Vamos aguardar novas evidências para confirmar se esse padrão se repete em outras nações. Enquanto isso, convido todo paciente com diabetes tipo 1 a controlar e monitorar mais a glicemia, manter o uso regular dos medicamentos e realizar as consultas presenciais ou remotas com seu médico.

Usar máscara durante o exercício não faz mal revela estudo

Se tem uma coisa que se espalha rápido na internet é boato. Um recente associou o uso de máscaras faciais (cruciais para controlar a disseminação do novo coronavírus) a efeitos negativos na saúde quando usadas durante as atividades físicas. Pois o cardiologista Fabrício Braga, diretor médico Laboratório de Performance Humana (LPH) da Casa de Saúde São José, no Rio de Janeiro, resolveu tirar essa história a limpo.

Até porque, em muitos locais do Brasil, academias e parques reabriram, estimulando a prática de exercícios. Com os casos de Covid-19 ainda em alta, não é um bom momento para ter medo de recorrer à máscara como medida de proteção.

Para avaliar os efeitos fisiológicos causados pelo acessório durante a prática esportiva, o médico recrutou 12 voluntários. Eles pedalaram com máscara por um total de 12 minutos – seis com carga leve e, nos outros seis, com carga moderada.

O principal achado da experiência foi a queda na frequência respiratória. “Todo o mecanismo de adaptação que acontece é baseado nisso”, comenta o pesquisador. Ele explica que, como é preciso vencer a resistência provocada pela máscara para inspirar e expirar, é natural que o ciclo da respiração demore mais.

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E, à medida que o exercício se torna mais intenso, há maior necessidade de colocar ar dentro do pulmão. Nesse momento, abrem-se dois caminhos possíveis: respirar de forma acelerada ou mais prolongada.

“Quem opta por respirar mais rápido acaba enfrentando maior dificuldade. Isso porque não dá tempo suficiente para ocorrer essa troca de ar. A máscara dificulta”, descreve. Daí a sensação de desconforto. Outra queixa que apareceu no decorrer da investigação foi a sensação de calor na região do rosto, já que a temperatura ali subiu cerca de 1° C.

Mas o médico frisa que o problema é somente esse: o desconforto. Embora o trabalho tenha indicado que ocorre um aumento na frequência cardíaca com a máscara, isso não representa nenhum perigo ao organismo.

Segundo Braga, trata-se de um processo natural, já que há maior trabalho da musculatura respiratória. “Ao fazer mais força, gasta-se energia extra para pedalar e respirar. Isso demanda maior quantidade de sangue circulando. Aí, a frequência sobe”, conta.

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Ele reforça que esse acontecimento é fisiológico, ou seja, totalmente esperado durante exercícios. “A máscara só antecipa o momento em que a frequência cardíaca se eleva”, avisa.

Obviamente que indivíduos com problemas prévios no coração precisam ser acompanhados – não por causa da máscara em si, mas para receber orientações sobre a prática segura de exercícios.

Uma oportunidade para respirar melhor

Segundo Braga, ao vestir a máscara para correr ou pedalar, em vez de acelerar a respiração para puxar mais ar, o melhor é inspirar e expirar profundamente. Desse jeito, o desconforto acaba sendo muito menor.

Mas nem é só isso. Ao realizar esse treino, é possível mudar o padrão respiratório. Há vários benefícios ao torná-lo mais lento, incluindo um melhor manejo do estresse e da ansiedade. Já reparou como a respiração profunda é preceito básico em exercícios de relaxamento?

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Como minimizar o incômodo causado pela máscara

Além de inspirar e expirar mais devagar, outra coisa que facilita o uso da máscara é escolher uma versão mais adequada à prática de exercícios.
De acordo com Braga, aquelas feitas totalmente de algodão, por exemplo, devem ser evitadas. “Elas esquentam mais e levam a uma maior restrição ventilatória”, resume. Outra opção que não vale a pena é a cirúrgica (ou hospitalar), conhecida como N95. “Todos os desconfortos são potencializados com ela”, avisa.

O médico conta que as máscaras mais confortáveis para a hora de malha possuem duas camadas de tecido hidrofóbico, que umidificam menos. “E há um filtro no meio”, esclarece. “Ele pode ser retirado e lavado separadamente”, completa.

O ponto chave é ter em mente que se habituar à máscara para se exercitar é uma questão de treino. À medida que o tempo passa, isso se torna um hábito. Até lá, é preciso insistir.

E mesmo que você corra ou pedale, atividades que naturalmente te deixam mais distante de outras pessoas, não dá para abdicar do acessório. “Vai que você encontra alguém e faz uma pausa para conversar”, especula Braga. Sem falar que, até chegar na rua ou ao parque, muitas vezes há interação com o porteiro, o vizinho…

“As pessoas que têm a vantagem de não fazer parte do grupo de risco, como os jovens, precisam proteger os mais vulneráveis”, resume o médico. Mais do que uma opção, a máscara é um símbolo de empatia.

segunda-feira, 27 de julho de 2020

As diferenças e semelhanças entre outros coronavírus e o Sars-CoV-2

O Sars-CoV-2, causador da Covid-19, é chamado de “novo” coronavírus porque ele faz parte de uma família maior, que possui membros já conhecidos pelos cientistas. Alguns desses familiares provocaram doenças em seres humanos – chegando a gerar surtos. Porém, não se disseminaram a ponto de resultar em uma pandemia como a que estamos vivendo agora.

Abaixo, conheça os outros coronavírus que já circularam (ou circulam) por aí e suas particularidades.

Mers-CoV, Sars-CoV e Sars-CoV-2: a família dos coronavírus

Antes de tudo, é bom lembrar que os coronavírus atingem várias espécies de animais. Da família, sete tipos afetam a nós, seres humanos. Quatro levam apenas a resfriados. Os três restantes, por sua vez, causam sérios problemas respiratórios.

O virologista Paulo Eduardo Brandão, professor da Universidade de São Paulo (USP), conta que, até 2002, só dois eram conhecidos – e estavam relacionados a resfriados.

“Eles eram considerados patógenos de menor importância para a população humana. Até que, em 2002, encontraram na China um vírus respiratório de grande letalidade”, relata. Para ter ideia, a taxa de mortalidade alcançava 10%.

Essa versão levou a um surto da chamada síndrome respiratória aguda grave (ou Sars) na China. Por isso, o vírus ganhou o nome de Sars-CoV. A Sars acometeu mais de 8 mil pessoas em vários países e matou 800 indivíduos. Contudo, desde 2004 nenhum novo caso aconteceu no mundo. A doença é considerada erradicada.

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Depois de 2002, foram encontrados mais dois tipos, também causadores de resfriados leves. “Essa descoberta deu uma boa acelerada nas pesquisas focadas nessa família”, contextualiza Brandão.

Durante 10 anos, não tivemos nenhum surto desses agentes infecciosos. Aí, em 2012, surgiu mais um parente, dessa vez na Arábia Saudita. Ele provocava a mesma pneumonia viral vista na Sars, só que matava mais.

A nova enfermidade foi batizada de síndrome respiratória do Oriente Médio (Mers) e o vírus recebeu o nome de Mers-CoV.

“Ele chamou atenção, mas não motivou grande preocupação em termos de saúde pública porque ficou restrito àquela região”, informa o virologista.

Ao contrário da Sars, a Mers ainda é uma realidade. E não só no Oriente Médio: há relatos de casos na Europa e na América do Norte. Cerca de 35% dos atingidos vão à óbito.

O sétimo e último membro da família (até o momento) você deve conhecer melhor. Ele apareceu no fim de 2019, em Wuhan, na China. Por ser muito similar ao Sars-CoV, foi batizado de Sars-CoV-2. Já a doença que ele causa é chamada de Covid-19.

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O índice de mortalidade gira em torno de 3% e 4% – isso varia de um lugar para outro. “Só que ele atua no organismo de um jeito que ninguém tinha visto antes”, aponta Brandão.

“Os anteriores eram essencialmente respiratórios. Já esse novo coronavírus ocasiona, em conjunto, problemas renais, cardíacos e nervosos, além de alterações na coagulação do sangue”, enumera o professor.

Apesar de levarem a consequências diferentes, todos os coronavírus humanos têm a mesma origem: os morcegos. “Em algumas situações, há um hospedeiro intermediário. Na Mers, por exemplo, são os dromedários”, acrescenta Brandão.

Como os coronavírus são transmitidos

Em todos os casos, a doença é passada adiante por gotículas de tosse ou espirro – elas são transportadas pelo ar. A contaminação também pode ser indireta, como quando tocamos em uma superfície infectada e, em seguida, levamos a mão aos olhos, à boca ou ao nariz.

Na Mers, o contágio ainda acontece por meio do contato com a saliva, a urina ou as fezes de dromedários.

“A taxa de transmissão varia porque não está relacionada ao microorganismo em si, mas à imunidade do hospedeiro, à densidade populacional da região e às medidas de controle tomadas”, aponta Brandão.

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Quais os sintomas

Tanto a Sars quanto a Covid-19 são marcadas por sinais similares aos de outras doenças respiratórias, como febre, dor de cabeça e no corpo, tosse seca e dificuldade para respirar – só que mais graves. Eles dão as caras de dois a 14 dias após a contaminação.

A Mers é bem parecida, mas parte dos pacientes também apresenta náuseas, vômitos e diarreia.

Os demais coronavírus provocam sinais de resfriados comuns: secreção e congestão nasal, espirros e febre leve.

“É bom lembrar que o período de incubação do Sars-CoV-2, em geral, é mais longo. Ele acaba sendo transmitido por semanas sem que o indivíduo sequer tenha sintomas”, alerta o especialista.

Como é o diagnóstico

Nos resfriados, normalmente ele é realizado com base nos sintomas. Para todas as outras enfermidades, colhe-se uma amostra de secreção nasal e oral com o swab – aquela espécie de cotonete. “Ali, se procura pedaços de genoma do vírus. É o chamado RT-PCR. Isso vai dizer se a pessoa estava infectada naquele momento”, esclarece o profissional.

Agora, para saber se o indivíduo teve contato prévio com o vírus, há o exame de sangue, indicado para detectar a presença de anticorpos – eles são a prova de que o corpo já produziu uma resposta contra a infecção.

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“Mas ter anticorpo não significa necessariamente que se está protegido. Os coronavírus têm um padrão de reinfecções sucessivas. A imunidade normalmente é de curta duração”, pondera Brandão.

Quais são os grupos de risco

As pessoas com maior possibilidade de sofrer com Covid-19, Sars e Mers são as mesmas: idosos e portadores de doenças crônicas. Isso porque o sistema imunológico dessa turma é mais debilitado.

Por outro lado, os coronavírus que causam resfriados são mais perigosos para as crianças. “Nos adultos, eles não preocupam. Mas, na meninada eles são capazes de levar a processos respiratórios mais severos”, avisa o professor.

Como é o tratamento

Por serem infecções virais, todas elas têm cura, já que o corpo naturalmente elimina o vírus. No entanto, não há nenhum tratamento específico para resolver logo a situação. Para quem desenvolve a forma leve, o indicado é repousar, se alimentar bem e ingerir bastante líquido.

Nos quadros graves, os sintomas são controlados através de uma série de medidas que variam de paciente para paciente.

Como prevenir

Independente do tipo de coronavírus, as melhores formas de protegermos uns aos outros é higienizando as mãos constantemente com água e sabão (ou álcool em gel), utilizando máscaras faciais e mantendo o distanciamento social.

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No caso da Mers, devido ao risco de transmissão pelas gotículas de dromedários, é importante evitar o contato com eles. Para quem planeja ir ao Oriente Médio, a Organização Mundial da Saúde (OMS) inclusive recomenda a consulta de um guia disponível em seu site. Há orientações para a viagem no material.

Não existe vacina para nenhuma dessas infecções. Mas, devido ao impacto da Covid-19 no mundo todo, a corrida para um imunizante contra o Sars-CoV-2 anda particularmente acelerada.

Por que os surtos de Sars e Mers não se tornaram pandemias?

Existem algumas razões para a Sars e a Mers não terem culminado em uma pandemia como a que estamos vivendo neste momento com a Covid-19.

Brandão explica que a Sars ficou restrita aos hospitais, então foi mais fácil implantar as medidas de controle. O fato de se ter clareza sobre quem era o hospedeiro intermediário tanto da Sars quanto da Mers também ajudou.

“O terceiro fator é a questão da alta letalidade. Em geral, quanto maior ela é, menor a taxa de transmissão”, raciocina o virologista. Ora, se um vírus matar muito e rápido, sobra menos tempo para um indivíduo infectado passá-lo adiante.

O Sars-CoV-2, nosso inimigo atual, mata menos. Logo, sua situação é mais favorável: ele pula de uma pessoa para outra com mais facilidade.

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Portanto, enquanto não tivermos uma vacina disponível, a melhor forma de combatê-lo é respeitando as medidas preventivas. Água, sabão, máscaras e distanciamento social ainda são nossos melhores aliados.