sábado, 31 de outubro de 2020

A evolução e os desafios no tratamento do câncer de mama metastático

Em outubro celebramos o mês de conscientização sobre o câncer de mama, o tipo da doença mais comum entre mulheres no mundo, excluindo o câncer de pele não melanoma. Só no Brasil são 66 280 novos casos esperados para cada ano no triênio de 2020 a 2022. Isso significa uma proporção de mais de 61 casos por 100 mil mulheres nesse período. Além de ampliar o diagnóstico precoce e a prevenção, dois fatores importantíssimos para reduzir a mortalidade pela doença, é fundamental falar também do câncer de mama metastático, quando a doença já se espalhou.

Um estudo analisou informações de quatro diferentes bases de dados de registro da enfermidade no país entre 2008 e 2018 e estimou que atualmente tenhamos 44 642 brasileiras vivendo com câncer de mama metastático — são 41 casos a cada 100 mil mulheres. Entre essas pacientes, 58% foram diagnosticadas com o subtipo mais comum da doença (o RH+/HER2-).

Apesar de existirem diversas opções terapêuticas contra o câncer de mama metastático, como a terapia hormonal, muitas mulheres apresentam resistência e progressão da doença. Quando isso acontece, aquelas com a doença avançada do tipo RH+/HER2- costumam ser submetidas à quimioterapia — tratamento que, nessas circunstâncias, demonstra piores taxas de resposta e tolerabilidade. O fato é que hoje ainda existem muitas necessidades não atendidas para mulheres que enfrentam o câncer de mama metastático.

Mas temos boas notícias, com novos tratamentos capazes de ajudá-las a viver mais e melhor. Para nós, médicos, ter mais opções terapêuticas é essencial para que possamos escolher o que é mais adequado para cada paciente. Um exemplo dessa tendência é o medicamento abemaciclibe, pertencente à classe dos inibidores de ciclina e lançado no Brasil pela pela farmacêutica Eli Lilly em 2019. Ele é indicado para o tratamento de câncer de mama avançado ou metastático RH+HER2 -, em combinação com a terapia hormonal como tratamento inicial, em combinação com fulvestranto após terapia hormonal inicial ou em monoterapia após progressão da doença depois do uso de terapia endócrina e um ou dois regimes quimioterápicos anteriores para a doença metastática.

No estudo da combinação com terapia hormonal inicial, por exemplo, essa estratégia mostrou redução de 46% no risco relativo de progressão da doença ou morte no comparativo ao grupo controle (sem esse tratamento), com resposta de sucesso de 48% entre as pacientes testadas e uma sobrevida livre de progressão da doença de mais de dois anos. Essa nova classe de medicamentos é a mais recente ferramenta a aprimorar o tratamento da enfermidade em nosso país. E, agora, nossa esperança é que tratamentos como esse possam estar disponíveis a mais e mais brasileiras.

Neste momento, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) está avaliando a inclusão de medicamentos como o abemaciclibe como parte da cobertura obrigatória dos planos de saúde. Cerca de 25% da população brasileira possui acesso a convênios. Diante disso, ter esses remédios disponíveis pelo plano é crucial para elevar as chances de sucesso contra a doença. Como parte do processo de avaliação da inclusão, a ANS abriu uma consulta pública até 21 de novembro que oferece a oportunidade de toda a sociedade opinar sobre o parecer preliminar da agência de incluir ou não essas terapias no rol de cobertura obrigatória dos convênios estabelecido pelo órgão.

No caso do abemaciclibe, a agência recomendou preliminarmente a inclusão de apenas uma indicação do produto a ser reembolsada pelos planos. Os usos em monoterapia e em combinação com um inibidor da aromatase como terapia endócrina inicial tiveram respostas iniciais negativas da agência. Por isso a participação nas consultas públicas é importante. Eis uma grande oportunidade para que toda a sociedade possa fazer sua voz ser ouvida e ajudar na inclusão de medicamentos de última geração para o tratamento do câncer de mama metastático.

* Antonio Buzaid é oncologista e diretor médico do Centro de Oncologia da BP – Beneficência Portuguesa de São Paulo, além de membro do comitê gestor do Centro de Oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein

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sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Um livro para o trabalho não acabar com a gente

Metas em cima de metas, reuniões sem fim, e-mails, chats e mensagens fora do expediente… Fica fácil entender por que cresce o número de pessoas que sofrem e adoecem em função da rotina e do ambiente corporativo. Para quebrar esse círculo vicioso, devemos reconsiderar e demolir alguns conceitos que imperaram por décadas na cultura das empresas, como a ideia de que é bonito chegar cedo e sair tarde do escritório ou varar madrugadas para entregar projetos.

Eis o manifesto de dois executivos de uma companhia de softwares americana que, ao longo dos anos, testaram e implementaram resoluções capazes de alavancar a felicidade dos colaboradores e o lucro da firma. Em O Trabalho Não Precisa Ser uma Loucura (clique para comprar), Jason Fried e David Hansson dividem reflexões e exemplos que podem inspirar funcionários, empreendedores e gestores. O case deles soa às vezes paradisíaco, mas no mínimo nos força a desconstruir mitos do trabalho árduo, corrido e competitivo.

Para refletir

Cinco questões para se fazer considerando seu comportamento no trabalho

É urgente mesmo?
Dar ou exigir respostas rápidas e imediatas na maioria das vezes não faz diferença para o fluxo e o sucesso das atividades.

Precisa de reunião?
Boa parte dos encontros, sobretudo os que envolvem gente demais, desperdiça tempo e não chega a resoluções.

Estou concentrado?
O ambiente de trabalho, os chats e as redes sociais podem fazer com que horas no computador não rendam. Foco faz diferença.

Metas são tudo?
Não! Na empresa dos autores, metas nem existem mais. Não raro elas são arbitrárias e inalcançáveis.

Tenho de descansar?
Mas é claro! Sono e férias são sagrados. Se você ou a companhia não respeitam isso, uma hora o corpo e a mente se ressentem.

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Quiz: você cuida da saúde mental da mesma forma que da física?

O caminho para uma vida saudável passa pela prevenção. Seguir uma alimentação nutritiva, abandonar o sedentarismo, realizar checkup uma vez ao ano, por exemplo, são atitudes essenciais para fortalecer o organismo e reduzir o risco de adoecer. Mas, quando se trata da saúde mental, nem todas as pessoas entendem que a adoção de determinados hábitos também é importante para evitar doenças como a depressão.

“Pode parecer óbvio que seja bom prevenir a depressão, pois assim se impede a tristeza intensa. Entretanto, a prevenção desse transtorno é muito mais que evitar o sofrimento subjetivo, já que a depressão pode também comprometer as funções executivas (aquelas habilidades cognitivas necessárias para controlar nossos pensamentos, emoções e ações) e prejudicar a memória e a concentração, por exemplo. Nossos afetos são regulados por circuitos de neurônios, que formam uma rede neural de comunicação. Assim como a prática de exercícios fortalece o sistema cardiovascular e promove a saúde física, há hábitos e comportamentos que melhoram a comunicação da rede neural responsável por regular as emoções e, dessa forma, melhoram também a saúde emocional”, explica o psiquiatra Renério Fráguas Junior. 

Mas quais são essas atitudes? E mais: será que a sua rotina envolve esses cuidados tão importantes para manter sua mente saudável?

Faça o quiz Você cuida da saúde mental da mesma forma que da física?, descubra as respostas para as perguntas e adote hábitos simples, porém essenciais, para prevenir o diagnóstico da depressão!

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Novos testes genéticos revelam nossas origens

Em junho de 2016, um grupo de 67 voluntários, das mais diferentes partes do mundo, participou de um experimento social em Copenhague, na Dinamarca. Havia gente de todo canto: um inglês que detestava alemães, um cubano que não simpatizava com franceses e um islandês que jurava que era 100% islandês. Todos eles foram convidados a cuspir dentro de um tubo de ensaio e fazer um teste de DNA.

Duas semanas depois, os participantes fizeram caras e bocas ao tomar conhecimento dos resultados. O inglês descobriu que 5% de seus antepassados vieram da Alemanha. O cubano soltou uma gargalhada ao saber que tinha ancestrais espalhados por toda a Europa. O islandês ficou surpreso ao constatar que, ao contrário do que pensava, sua família não era composta só de islandeses, mas também de portugueses, espanhóis, italianos, gregos… “Não haveria extremismo no mundo se todos nós soubéssemos de onde viemos”, observou a francesa Aurelie, uma das participantes do projeto.

Batizado de The DNA Journey (“A jornada do DNA”, em livre tradução), o vídeo, idealizado por um site de buscas de passagens aéreas e reservas de hotéis, viralizou nas redes sociais e já registra mais de 330 milhões de visualizações. De lá para cá, muita coisa mudou. Os testes genéticos estão se popularizando. Inclusive no Brasil.

Esses exames já não são mais tão caros como eram. Há cerca de cinco anos, um kit para descobrir a origem de seus ancestrais custava em torno de 300 dólares (ou 1,6 mil reais). Hoje pode ser comprado por menos de 500 reais. “Nosso teste identifica origens genéticas de até oito gerações, o que corresponde aos bisavôs dos nossos tataravôs”, conta Cesário Martins, diretor do meuDNA. “O teste de ancestralidade é uma importante ferramenta de autoconhecimento. Conhecer as próprias origens faz parte da construção da identidade”, afirma.

Realizar o teste é fácil e pode ser feito em casa pela própria pessoa. Basta comprar um kit pela internet, ler as instruções na embalagem, coletar uma amostra de seu DNA e enviá-la ao laboratório especializado pelos correios. Nada de sangue. A amostra é coletada esfregando um cotonete especial chamado “swab” na parte interna da bochecha.

De sua saliva a empresa vai extrair células que contêm seu código genético. Ele será inserido em um banco de dados e, por meio de inteligência artificial, comparado ao DNA de outras pessoas e clientes do laboratório. Dentro de algumas semanas, o usuário recebe um mapa detalhado com os países de origem de seus ancestrais.

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“Somos o único laboratório do Brasil que oferece a possibilidade de localizar parentes próximos ou distantes”, afirma o médico Ricardo di Lazzaro Filho, sócio-fundador da Genera, empresa que também fornece um teste de ancestralidade feito em casa. “O principal motivo de procura por esses testes é a busca do autoconhecimento e de sua própria história. O Brasil é um país muito miscigenado”.

Saúde sob medida

Mas os testes genéticos não servem apenas para revelar quem são nossos antepassados. Mais do que isso, existem exames que vasculham nosso DNA para ajudar a cuidar melhor da saúde. Como? Eles podem apontar desde deficiências de vitaminas até a predisposição a vários tipos de câncer.  “O autoconhecimento genético evita o surgimento de algumas doenças, assim como detecta precocemente outras”, explica Martins.

O diretor do meuDNA cita, por exemplo, o câncer de mama. Cerca de 10% dos casos são causados por mutações genéticas herdadas dos pais. “Milhares de casos de câncer poderiam ser evitados ou diagnosticados precocemente se as mulheres tivessem conhecimento de seus riscos genéticos”, afirma.

A genética é peça-chave na construção do que Ricardo di Lazzaro chama de medicina 4Ps: preditiva, preventiva, personalizada e participativa. Além de identificar propensão a certas doenças, testes de DNA podem sinalizar quais medicamentos são mais indicados a cada paciente. É a farmacogenômica, ramo da farmacologia que estuda a interação entre os genes e os remédios. “Os resultados obtidos são importantes aliados no tratamento de pacientes que não estão respondendo positivamente a um determinado medicamento, seja por falta dos efeitos esperados, seja por excesso de efeitos colaterais”, esmiúça o CEO da Genera.

Na era da medicina de precisão, que usa dados genéticos para aprimorar a prevenção e o tratamento de doenças, a professora Lygia da Veiga Pereira, chefe do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), idealizou o projeto DNA do Brasil, em parceria com a Dasa, maior grupo de medicina diagnóstica da América Latina.

Lançada em dezembro do ano passado, a iniciativa planeja sequenciar o genoma de 15 mil voluntários, entre 35 e 74 anos, e montar um banco de dados genéticos da população brasileira. “O DNA do Brasil é essencial para ajudar a compreender como as variantes genéticas se relacionam com determinada doença na população. Com isso, será possível obter um diagnóstico mais preciso e predizer as chances de um indivíduo desenvolvê-la”, conta Lygia.

“Essa abordagem permite que a equipe de saúde tome decisões clínicas em tempo oportuno para evitar que a doença se manifeste. Entre outras possibilidades, poderá definir qual medicamento será mais eficaz ou terá menos efeitos colaterais”, completa a professora da USP. É a genética dando sua contribuição à saúde pública.

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Conheça cuidados preventivos que podem ajudar no combate à depressão

Na internet, na televisão e nas conversas entre amigos, é comum encontrar conselhos para fortalecer o organismo e evitar doenças. Graças a essa troca de informações, hábitos como praticar atividades físicas, seguir uma alimentação equilibrada, não fumar e fazer checkup anualmente vêm sendo incorporados à rotina de grande parte da população.

Mas, além da saúde física, é essencial, também, cuidar da saúde mental – para evitar doenças como a depressão, que pode desencadear uma série de problemas e, em alguns casos, até causar mortes por suicídio. O segredo de cuidar bem do corpo e da mente é investir na prevenção. “As mulheres vão todo ano ao ginecologista e nem sempre para tratar alguma enfermidade, e sim para prevenir. Temos que nos dedicar à nossa saúde mental do mesmo modo que fazemos com nossos dentes, por exemplo, que escovamos todos os dias”, comenta o psiquiatra Elson Asevedo, pesquisador da Universidade Federal de São Paulo.

 

Depressão: como prevenir?

Assim como a prática de exercícios fortalece o sistema cardiovascular, melhora o condicionamento físico e, consequentemente, a saúde, alguns hábitos e comportamentos são fundamentais para a saúde mental. Por exemplo, o consumo de frutas, grãos integrais, vegetais, peixes, azeite e laticínios com baixo teor de gordura contribui com a prevenção da depressão. Por outro lado, a dieta rica em caloria, mas com baixo teor nutritivo, como frituras e gorduras saturadas, tem sido associada ao aumento do risco de desenvolvimento da doença.

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Outro cuidado é dormir bem. O sono é fundamental e sua falta facilita o surgimento do transtorno. “Ter um horário habitual para despertar auxilia o ciclo fisiológico e mantém o organismo saudável”, explica o psiquiatra Renério Fráguas Junior.

Vale, ainda, incorporar à sua rotina a prática de exercícios – ao menos três vezes por semana. Sabe-se que os esportes promovem a liberação de endorfina, o hormônio do prazer, e de outros neurotransmissores por trás da sensação de bem-estar. Mas os benefícios vão além, de acordo com Fráguas. “Suar a camisa desencadeia reações cerebrais que contribuem para a formação de mais pontos de contato entre os neurônios. Como resultado, aumenta a comunicação entre os circuitos que processam as emoções negativas e positivas e, consequentemente, eleva o prazer e o interesse por aquilo de que a pessoa gosta. Por outro lado, diminui a tendência à tristeza e ao desânimo.”

A forma como se encara a vida também deve ser analisada. Reservar alguns momentos para fazer o que lhe dá prazer e buscar atividades que proporcionem a sensação de felicidade, tranquilidade e bem-estar são atitudes essenciais para manter a cabeça ativa e o pensamento positivo. Pode ser deitar na rede para ler um livro, ouvir uma música, praticar ioga, meditação ou terapias diversas, aprender coisas novas, cultivar um hobby ou viajar.

Acolhimento para uma mente sã e o momento de buscar ajuda

Cercar-se de pessoas que lhe dão apoio também é um cuidado importante para se sentir fortalecido e prevenir a depressão. “Sabe-se que o estresse é um dos fatores desencadeadores da doença. No entanto, o apoio do cônjuge, família e amigos assim como dos pais, em particular para crianças e adolescentes, é capaz de proteger contra o transtorno. Por meio de conversas, incentivos e amparo, eles garantem um suporte emocional que permite o desenvolvimento da capacidade de resiliência e de superação de situações adversas. Como consequência, diminuem os fatores estressantes e a reação ao estresse”, explica Fráguas. Em paralelo, é necessário dar atenção aos sinais de alerta, como por exemplo, sensação de angústia, ansiedade exagerada, baixa autoestima, insônia (ou excesso de sono), desinteresse por atividades que antes davam prazer, pensamentos pessimistas, às vezes sobre a morte, comportamentos compulsivos, dificuldade para se concentrar, problemas ou disfunções sexuais, sensação de impotência ou incapacidade para os afazeres do dia a dia, que indicam que é hora de procurar ajuda profissional. Um passo essencial para cuidar da saúde mental é olhar para dentro de si e reconhecer as próprias emoções. “Essa é uma habilidade complexa, e identificar que aquilo que a pessoa está sentindo vai além de uma tristeza habitual não é fácil”, conta Asevedo.

Outro ponto fundamental para proteger a saúde mental é desconstruir crenças, preconceitos e tabus que em nada ajudam a prevenir ou superar a depressão. Por exemplo, buscar um psiquiatra ou psicólogo não é exagero nem está, necessariamente, vinculado a uma suspeita considerável do transtorno. Além disso, não é preguiça nem frescura, e pode afetar homens e mulheres, de qualquer classe social. Trata-se de uma doença psiquiátrica que requer tratamento adequado, e é importante buscá-lo o quanto antes.

Para requalificar, por meio da informação, a forma como nos referimos à depressão e estimular a construção de um ambiente acolhedor, no qual a pessoa com depressão  se sinta engajada a procurar ajuda qualificada, a Janssen, farmacêutica da Johnson & Johnson, lidera o Movimento Falar Inspira Vida. Entre as ferramentas criadas pelo Movimento está o Guia Depressão: Quando Saber Falar e Ouvir Inspira a Vida, que explica qual a maneira mais adequada e empática para falar sobre o tema, de forma a promover uma escuta acolhedora e incentivar a busca por apoio de profissionais qualificados. Acesse, informe-se, compartilhe e ajude a construir uma sociedade mais preparada, empática e livre de julgamentos. 

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Vacina da tuberculose contra o coronavírus: o que sabemos até agora

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) iniciou no Brasil o estudo Brace Trial, que pretende avaliar a eficácia da vacina BCG, feita originalmente contra a tuberculose, para minimizar o impacto do novo coronavírus (Sars-CoV-2). A pesquisa está sendo realizada também na Austrália, no Reino Unido, na Espanha e na Holanda e deve contar com a participação de 10 mil voluntários no total.

De acordo com o infectologista Julio Croda, professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) e um dos líderes da investigação, a BCG ajudaria a combater a Covid-19 porque é capaz de estimular o sistema imunológico de uma maneira mais geral. “É o que chamamos de resposta imune inata”, diz. Ou seja, células e outras moléculas que compõem a primeira linha de defesa do organismo contra diferentes infecções seriam despertadas pela vacina BCG — e, talvez, evitassem o coronavírus ou atenuassem seus sintomas.

Estudos anteriores sugerem essa ação mais generalizada contra vírus e bactérias em cenários anteriores ao da pandemia atual. Uma revisão publicada em 2016 no periódico British Medical Journal checou esse efeito em crianças menores de 5 anos. A partir de cinco pesquisas clínicas, notou-se uma tendência de redução de 30% no risco de morte por qualquer razão, o que não seria justificado só pela proteção contra a tuberculose. No entanto, esse resultado estava — por muito pouco — dentro da margem de erro.

Pesquisas observacionais que foram avaliadas nessa mesma revisão também associaram a vacina BCG a uma menor probabilidade de morte por qualquer causa nos pequenos com menos de 5 anos (na ordem de 53%). Mas esse tipo de levantamento é menos confiável do que as pesquisas clínicas.

Outra análise, dessa vez realizada no Hospital Islâmico Sitti Maryam, na Indonésia, indica que esse benefício não se restringiria à meninada. Os cientistas selecionaram 34 idosos de 60 a 75 anos: parte recebeu a vacina BCG, enquanto a outra tomou uma injeção placebo (com uma substância sem efeito nenhum). Ao final, eles constataram uma maior redução de infecções agudas do trato respiratório em geral no grupo que se imunizou contra a tuberculose.

É bom lembrar que esse imunizante não seria o único a causar um efeito protetor amplo, assim por dizer. As vacinas para o sarampo e a poliomielite também instigam esse tipo de imunidade. Mas ainda não há provas de que nenhuma delas seja capaz de conter o novo coronavírus. É justamente isso que a Fiocruz pretende investigar.

Em que pé está o estudo

Existem mais pesquisas sendo realizadas no mundo para checar se a vacina BCG funciona diante do Sars-CoV-2, inclusive no Brasil. Porém, o Brace Trial é a única em fase três — está mais avançada, portanto.

“Ela se diferencia pelo número maior de voluntários e por avaliar não apenas a eficácia, mas também se há redução nas taxas de internação e óbito”, aponta Croda.

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No Brasil, serão recrutados 3 mil participantes acima de 18 anos, todos profissionais da saúde — incluindo os que fazem parte do grupo de risco. Os voluntários serão de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, e na cidade do Rio de Janeiro.

“A ideia é acompanhá-los por um ano. Toda semana, iremos questionar a respeito dos sintomas respiratórios e, a cada três meses, realizar o exame sorológico”, informa o professor.

Se der tudo certo, as agências regulatórias precisam apenas autorizar uma mudança na bula da injeção. Ao contrário das candidatas à vacina contra o coronavírus que estão sendo desenvolvidas, a opção contra a tuberculose já conta com um sistema de produção e distribuição robusto.

“Mesmo quando uma vacina específica para o coronavírus for aprovada, não teremos capacidade de fabricar a quantidade necessária para a população. Então, a BCG pode ser uma alternativa até conseguirmos aplicar o imunizante novo em todo mundo”, raciocina Croda.

Vacina BCG geraria proteção duradoura contra o coronavírus?

Um estudo americano divulgado meses atrás sugeriu que países com esse imunizante nos seus programas de vacinação seriam menos afetados pela pandemia. A teoria é a de que, mesmo anos depois da aplicação da dose, a população teria uma resposta imune mais adequada contra o Sars-CoV-2.

No entanto, o trabalho recebeu críticas, como mostramos aqui. A Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai) até emitiu um comunicado exigindo muita cautela com a interpretação dos dados.

Um ponto levantado por Croda que vai contra a pesquisa americana é o de que a imunidade inata gerada pela vacina BCG contra outras infecções parece ser passageira. “Os estudos revelam que ela dura de um ano a um ano e meio”, estima.

Conclusão: mesmo que a injeção contra a tuberculose gere alguma proteção no curto prazo contra o Sars-CoV-2, nada indica que aplicações lá na infância sejam capazes de barrá-lo.

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Reumatologistas ainda são poucos e raros no Brasil

Parece no mínimo paradoxal comemorar o Dia Nacional de Luta contra o Reumatismo em um país em que pode haver mais de 20 milhões de pessoas acometidas por doenças reumáticas e, segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), existem cerca de 2 400 especialistas disponíveis para atendê-las. O cenário fica pior quando pegamos dados do IBGE e da Previdência Social mostrando que os problemas reumáticos representam a segunda maior causa de solicitações de auxilio-doença e aposentadoria por invalidez no Brasil.

Para complicar, desse número total de reumatologistas citado acima, mais da metade se concentra em São Paulo e atende em consultórios particulares. Qual é o motivo de tamanha discrepância?

Primeiro, a falta de conhecimento sobre o reumatismo, termo que na verdade abrange mais de 120 tipos de doenças que podem estar ligadas a articulações, músculos, ligamentos, tendões ou ao próprio sistema imunológico. Falamos de um universo que compreende artrites, dores nas costas, tendinites e bursites causadas por esforços repetitivos e doenças inflamatórias autoimunes. E que engloba estudos bioquímicos e cruzamentos com outras especialidades.

Muitas vezes, a dor e o inchaço numa articulação vêm de um problema autoimune, por exemplo. Uma dor contínua nas costas pode ser o primeiro sintoma de uma condição chamada espondilite anquilosante. A questão é que essas doenças precisam de um reumatologista para fazer o diagnóstico precocemente. Em geral, as pessoas com esses sintomas procuram o ortopedista, que cuida mais de traumas. Nós, reumatos, é que tratamos das “ites” que têm causas inflamatórias. Em meio a essa busca equivocada, brasileiros ficam sem diagnóstico e tratamento adequados.

Outro mito em torno das doenças reumáticas é pensar que elas se restringem aos idosos. Não é verdade. Elas surgem em sua maioria por um mau funcionamento do sistema imunológico, podendo aparecer em qualquer idade e não acometer só as juntas. Assim, provocam dores e outros sintomas, além de abalar a qualidade de vida, inclusive em pessoas mais jovens.

Um terceiro aspecto, e que reflete o que apontei há pouco, é que o acesso ao especialista, tanto no sistema público como no privado, ainda é muito difícil. Aprendi com os ensinamentos do meu avô, o professor Castor Jordão Cobra, um dos pioneiros nos estudos e no tratamento das doenças reumáticas no país, que a reumatologia deveria seguir um caminho democrático. Portanto, é importante consolidar serviços mais completos, que atuem também em hospitais e possam ampliar exponencialmente o acesso aos cuidados nessa área.

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Inclusive em tempos de adversidade como o da pandemia de Covid-19. Quando o coronavírus chegou ao Brasil, os reumatologistas tiveram de assegurar e resguardar seus pacientes com respostas imediatas. Por isso, a minha equipe assistiu e leu inúmeras discussões de como o novo vírus poderia afetar pacientes em tratamento de doenças autoimunes. Assim como milhares de outros médicos ao redor do mundo, refletimos e elaboramos estratégias para protegê-los.

Nesse contexto, realizamos um estudo prospectivo com 100 pacientes em tratamento de doenças autoimunes desde o início da epidemia, que foram monitorados durante quatro meses. Mensuramos os anticorpos, testamos a presença do vírus e concluímos que durante o pico da pandemia os pacientes se comportaram como o restante da população. Nenhum deles evoluiu para um quadro grave ou precisou ser internado.

Dos 18 que foram infectados pelo Sars-CoV-2, quatro tiveram a doença de forma branda e 14 evoluíram assintomáticos. Os resultados dessa pesquisa, conduzida pela Clínica de Reumatologia Prof. Dr. Castor Jordão Cobra, a Dasa e o Hospital Santa Paula, se somam a outras evidências internacionais que guiaram a continuidade dos tratamentos de forma segura e embasada nesses pacientes.

Eu e todos os especialistas que participaram do estudo acreditávamos que mesmo com o pequeno número de 2 400 profissionais pelo país ainda podemos provar para essas mais de 20 milhões de pessoas que sim, somos poucos, raros, mas estamos aqui para servir e ampliar cada vez mais o acesso a quem sofre com essas doenças crônicas.

E vamos continuar nossos trabalhos e esforços para que qualquer pessoa acometida por uma doença reumática possa se sentir acolhida e segura, nutrindo a esperança de que um dia esses números se invertam e possamos oferecer uma assistência mais democrática.

* Jayme Fogagnolo Cobra é reumatologista, diretor da Clínica de Reumatologia Prof. Dr. Castor Jordão Cobra, em São Paulo, e líder de um grupo de mais de 40 médicos que atuam em oito hospitais da região Sudeste

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quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Psoríase: o que é sintomas causas diagnóstico e tratamentos

O que é psoríase

A psoríase é uma doença autoimune, inflamatória e não contagiosa da pele. O próprio sistema de defesa do corpo começa a atacar as células dermatológicas por algum motivo, causando lesões. Ela acomete todas as faixas etárias e os dois sexos, mas é mais comum em adultos jovens. Dados da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) apontam que afeta 2 milhões de pessoas no nosso país.

De acordo com o dermatologista Ricardo Romiti, coordenador da Campanha Nacional de Psoríase da SBD, ainda não se conhece exatamente qual a sua causa. Sabe-se apenas que ela está relacionada a fatores genéticos e imunológicos de cada indivíduo.

“Além disso, alguns gatilhos desencadeiam ou agravam crises: estresse, infecções, banhos longos e muito quentes, uso de certas medicações e o tempo frio”, enumera Romiti.

Tipos de psoríase

Os sintomas de psoríase variam conforme o tipo da doença (e sua intensidade). Veja os principais:

Psoríase em placas ou vulgar:

Representa 90% dos casos. Acomete preferencialmente couro cabeludo, cotovelos, joelhos e dorso, e se manifesta através de lesões avermelhadas e elevadas, cobertas por escamas esbranquiçadas.

“Elas se desprendem com facilidade da pele, espalhando-se pelas roupas e objetos de contato diário, como pentes”, relata Romiti. As rachaduras vêm acompanhadas de dor e coceira.

Psoríase ungueal:

As lesões aparecem nas unhas das mãos e pés, levando-as a crescerem de forma desigual. As unhas chegam a ficar deformadas e mudam de cor.

Psoríase palmoplantar:

A palma das mãos e a sola dos pés são atingidos pelas placas.

Psoríase invertida:

As manchas vermelhas afetam áreas do corpo que suam mais (axilas, embaixo dos seios, virilha e dobra dos joelhos e cotovelos).

Psoríase artropática ou artrite psoriásica:

Às vezes, a inflamação se espalha por outras partes do corpo além da pele, chegando às articulações. Os sintomas são os mesmos da artrite comum (dor, inchaço e rigidez nas juntas). Esse quadro tende a demorar mais para aparecer.

Psoríase pustulosa:

São as mesmas lesões da versão vulgar, porém acompanhadas de bolhas com pus. Surgem no corpo todo ou só de forma localizada.

Psoríase gutata:

É caracterizada por manchas menores e mais finas que a vulgar, em formato de gota. São comuns em crianças e adultos jovens, aparecendo no tronco, nos membros e no couro cabeludo.

Psoríase eritrodérmica:

O corpo inteiro é acometido por manchas vermelhas que coçam e ardem intensamente. Por sorte, esse é o tipo mais raro.

Diagnóstico da psoríase

A confirmação do problema acontece, em geral no próprio consultório médico. Dermatologistas estão preparados para reconhecê-lo.

“Em alguns casos, também é necessário realizar uma biópsia da pele para afastar a possibilidade de outras doenças”, acrescenta Romiti. Se apresentar sintomas suspeitos, consulte um médico.

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Psoríase tem cura? Conheça o tratamento

“Ainda não há cura, mas hoje é possível tratar de maneira muito satisfatória”, comemora Romiti. Segundo ele, o arsenal terapêutico disponível consegue controlar completamente ou quase completamente os sinais e sintomas da psoríase.

O tratamento escolhido depende do tipo da doença, de sua extensão e da gravidade. Há quem só manifeste uma ou outra mancha de vez em quando, enquanto outros pacientes ficam com boa parte do corpo recoberta pelas lesões.

“Usamos desde medicações tópicas, com pomadas e cremes de efeito anti-inflamatório, até terapias sistêmicas”, ensina o profissional da SBD. O que são terapias sistêmicas? Em resumo, remédios para psoríase são orais, fototerapia e medicamentos injetáveis — os biológicos ou imunobiológicos.

De uma forma ou de outra, eles tentam conter os ataques do sistema imune à pele e a outras estruturas afetadas.

Romiti conta que os fármacos injetáveis, mais modernos, representam medidas extremamente eficazes e seguras no manejo. Quatro deles inclusive já foram incorporados ao Sistema Único de Saúde (SUS) para casos graves: o adalimumabe, o secuquinumabe, o ustequinumabe e o etanercepte.

Saiba como lidar com o prognóstico e as possíveis complicações

Infelizmente, a psoríase é carregada de estigmas e preconceito. Como já dissemos, a doença não é contagiosa, mas há quem tenha medo de se aproximar dos pacientes sem qualquer justificativa.

“Por causa das lesões aparentes, as pessoas sofrem discriminação e tendem a se isolar”, lamenta o Romiti. É comum que elas desenvolvam depressão e ansiedade. “Muitas precisam de um acompanhamento multidisciplinar para lidar da forma mais adequada com a doença”, aponta o médico. Psicólogos e psiquiatras muitas vezes são peça-chave nessa estratégia.

“Mas reforço que, atualmente, a psoríase é perfeitamente tratável. Isso devolve o bem-estar e a qualidade de vida”, completa Romiti.

Por outro lado, se não tratada corretamente, as lesões, dores e coceira pioram. “Casos graves podem demandar internação hospitalar pelo alto risco de complicações, como infecção e choque”, alerta o dermatologista. Por isso é tão importante buscar ajuda médica e não interromper a terapia.

Além disso, como dissemos no tópico sobre a artrite psoriásica, a inflamação é capaz de se espalhar pelo corpo, principalmente sem um tratamento adequado. Embora as articulações pareçam ser um alvo principal, a psoríase é capaz de afetar o sistema cardiovascular, o que aumenta risco de infarto e AVC.

Tratar, portanto, não protege apenas a pele.

Psoríase e coronavírus

Muitos dos tratamentos para psoríase buscam diminuir a atuação do sistema imune. E havia um receio de que isso favorecesse casos graves de Covid-19. No entanto, novos estudos sugerem que os remédios são seguros, embora seja sempre bom avaliar cada situação.

Abandonar a estratégia terapêutica sem conversar antes com um profissional pode trazer riscos para o corpo todo, como já mencionamos.

Há prevenção?

Infelizmente, não há formas conhecidas de evitar a doença. Mas tomando certos cuidados, é possível escapar da piora do quadro ou de crises intensas.

“As dicas incluem hábitos de vida saudáveis, uso de hidratantes e banhos de sol por período limitado”, lista Romiti. Ah, não cutuque ou arranque as escamas que se formam sobre a pele.

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VEJA SAÚDE é premiada por cobertura do coronavírus

A revista VEJA SAÚDE acaba de ganhar o Prêmio de Jornalismo “Fique em Casa” da Fundação Merck na América Latina. Laureada na categoria “mídia impressa”, a publicação foi reconhecida “por sua cobertura excepcional, que ajudou o povo brasileiro a adquirir informações e fatos importantes sobre a Covid-19”, nas palavras do comitê organizador.

VEJA SAÚDE ficou em primeiro lugar na América Latina — outros títulos venceram nos demais continentes — por cinco reportagens de capa sobre as repercussões diretas e indiretas da pandemia do coronavírus. Assinadas pelo jornalista André Biernath, as matérias vencedoras foram publicadas entre março e agosto e abordam:

A premiação reforça o compromisso de VEJA SAÚDE de “informar, contextualizar e traduzir conceitos, ideias e práticas para se ter uma vida mais saudável, equilibrada e feliz”, segundo o redator-chefe Diogo Sponchiato.

Aumentando a lista de reconhecimentos da marca, Diogo Sponchiato foi pela quarta vez consecutiva um dos vencedores do Prêmio Especialistas, da plataforma Negócios da Comunicação, voltado ao jornalismo especializado.

Além da revista, o site de VEJA SAÚDE publica diariamente conteúdos exclusivos sobre o coronavírus e outros temas quentes do universo da saúde.

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O que está por trás do infarto de José Luiz Datena e como evitar?

No dia 25 de outubro, recebemos a notícia de que o apresentador José Luiz Datena, de quem sou grande fã, sofreu um infarto agudo do miocárdio (ou ataque cardíaco). Mas o que é um infarto do miocárdio?

Trata-se da obstrução súbita de alguma artéria que irriga o músculo do coração, chamado de miocárdio. Normalmente, esse entupimento ocorre no local em que há uma placa de gordura. Um pequeno pedaço dessa placa rompe e forma um coágulo que impede o fluxo de sangue. Isso pode gerar arritmias, insuficiência cardíaca e até morte. Diga-se de passagem, o infarto do miocárdio é a principal causa de óbitos no mundo.

Mas o processo que leva a esse entupimento das artérias não acontece da noite para o dia. E um dos vilões muitas vezes nem é citado nas matérias: o diabetes! Datena e outros milhares de brasileiros convivem com essa enfermidade, que causa estragos sérios em silêncio.

O diabetes é um dos vários fatores de risco para doenças cardiovasculares, ao lado de hipertensão, colesterol e triglicérides elevados, tabagismo, sedentarismo etc. Sabe qual o ponto em comum de todas essas doenças? Elas muitas vezes são subnotificadas nas estatísticas e também nas manchetes.

O diabetes não é, usualmente, uma causa direta de mortes. Mas é, sim, um enorme contribuinte para isso. O risco de um paciente com essa doença desenvolver um problema cardiovascular é duas a quatro vezes maior do que aqueles sem ela. Cerca de 2/3 dos óbitos em pessoas com diabetes são de origem cardiovascular.

E o pior: uma pesquisa realizada em 2019 pelo setor de Inteligência da Abril 2019 — da qual participei como curador — observou que 46% dos brasileiros sem diabetes desconhecem a relação entre essa doença e o infarto. O número cai para 25% entre quem recebeu o diagnóstico de diabetes.

Não bastasse tudo isso, durante a pandemia de Covid-19 as mortes por doença cardiovasculares tiveram um pico no Brasil! O receio de ir ao hospital e dificuldades no atendimento estão entre as razões para isso.

A notícia boa é que, durante os exames de rotina, conseguimos detectar problemas cardíacos antes de eles manifestarem algum sinal clínico. Temos medicamentos para diabetes que previnem doenças cardiovasculares e tratam problemas já instalados no coração — além de reduzir o valor da glicose no sangue, claro. Os avanços da medicina, aliados a um estilo de vida saudável e ao controle de outros fatores de risco, têm um enorme potencial no controle do infarto. Mesmo a vacinação da gripe se mostrou benéfica para reduzir novos casos de infarto em estudo realizado na Dinamarca.

Assim, mantenha um acompanhamento médico regular, ainda que por teleconsulta, e realize seus exames de rotina. O coração agradece!

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quarta-feira, 28 de outubro de 2020

5 motivos que fazem você adiar seu projeto de emagrecimento

“Segunda-feira eu começo a dieta”: essa frase já ganhou até memes nas redes sociais. A nossa tradicional procrastinação inclusive é motivo de estudo. Hoje podemos compreender como o comportamento de empurrar com a barriga certas ações se relaciona com nossa vida e ainda mais com o emagrecimento.

Nós temos plena consciência de quando exageramos na alimentação e sabemos o que nos faz engordar. O fato é que mudar uma atitude requer uma quantidade de energia mental. Nosso padrão de fazer todos os dias as mesmas coisas é muito mais confortável.

Conforto é de fato a palavra-chave. Mudar requer atenção, cuidado e iniciativa. Quando pensamos em atitudes voltadas para o emagrecimento, o caminho é idêntico. O segredo é romper a inércia com o menor desconforto possível.

A primeira razão da procrastinação são os objetivos irrealistas. Na busca pela perda de peso, tendemos a colocar metas extremamente desafiadoras, que estão acima da nossa competência. Seja racional e mire em alvos possíveis, revisitando-os conforme os cumpre.

O segundo motivo para adiar seu plano de emagrecimento é a sobrecarga. Evite se desafiar durante períodos de muita demanda profissional, por exemplo. Pense que nós somos como baterias: quando o trabalho cobra energia extra, sobra pouca para organizar as demais tarefas.

Nesses momentos específicos, devemos conter os danos. Só tenha em mente que, dentro do possível, você deve batalhar por um expediente que permita momentos menos estressantes.

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A terceira razão é a falta de organização. Imagine que está sem tempo na sua agenda e, ainda assim, se propõe a treinar todos os dias na semana que vem. Qual horário? Quais datas? O que precisa acontecer para esse projeto virar realidade? Se a resposta for “não sei” para alguma das perguntas, precisamos dar um passo para trás e reprogramar o projeto, tornando-o exequível.

Aqui vai um lembrete: o sono é o momento no qual carregamos nossas “pilhas”. Se você quer ter disposição para uma vida mais saudável, valorize-o.

O quarto motivo é o perfeccionismo. Se em um dia específico você perder a hora do treino, abusar um pouco no almoço ou dormir mais tarde para ver um filme, tudo bem. Retome as rédeas da sua vida no dia seguinte, sem culpa.

Aliás, conduza seu cotidiano como o capitão de um navio, com mudanças de rota lentas e progressivas. Mais uma vez, o mundo ideal está longe da realidade.

A quinta razão é o medo das recaídas. O tombo é o melhor que pode acontecer para aprendermos a lidar com os desafios do caminho. Se proponha a mudar, e não a ser perfeito.

Conclusão: a procrastinação é humana. Se você deseja mudar de fato, comece reconhecendo a necessidade de mudar e dê os primeiros passos de maneira sustentável.

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Bactérias viram aliadas contra infecções no intestino

Como seu próprio nome entrega, a bactéria Clostridium difficile é dura na queda: quando ela invade o intestino, a pessoa costuma sofrer diarreias e uma inflamação pesada no sistema digestivo. E olha que isso não é tudo: a única forma de tratar a encrenca são os antibióticos. Ao mesmo tempo que eles podem resolver a parada, são o principal fator para a moléstia reaparecer.

Uma das alternativas mais promissoras é a transposição de uma microbiota equilibrada, rica em bactérias que beneficiam a saúde, para o indivíduo doente. E uma formulação criada pelas companhias Ferring e Rebiotix mostrou-se efetiva nos resultados preliminares dos testes de fase 3, o último estágio antes da aprovação para uso na população.

“A ideia é que a formulação seja analisada nos Estados Unidos este ano e chegue ao mercado brasileiro até 2024”, vislumbra Sérgio Teixeira, diretor médico da Ferring Brasil. 

Dominou geral

Até 15% dos pacientes têm o problema mais de uma vez

A guerra começa

Lidar com a Clostridium difficile está entre os grandes desafios da medicina. Essa bactéria se aloja no intestino grosso e provoca vários sintomas — de diarreia a inflamação.

Bomba atômica

Os antibióticos são a única maneira de lidar com a ameaça. O problema é que eles matam as bactérias ruins e boas, sem distinção. E isso abre alas para novas infecções.

Arma inteligente

Conhecido por ora pela sigla RBX2660, o novo tratamento é feito a partir de microbioma, um conjunto de bactérias saudáveis que vivem no nosso intestino.

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Ação cirúrgica

O grupo de micro-organismos é introduzido no corpo por uma sonda retal. O objetivo é reconquistar o espaço e repovoar esse trecho final do sistema digestivo.

Desdobramentos

Transplante do microbioma poderá ter outras aplicações

Emagrecimento

Estudos com roedores indicam que o transplante de microbiota tem o potencial de modificar o peso. Mas há muita pesquisa a ser feita ainda a respeito desse tema.

Parkinson

Testes iniciais sugerem que a tática ajudaria pacientes com essa doença neurodegenerativa. É preciso esperar novas informações e trabalhos mais robustos.

Infecções

Assim como acontece com a Clostridium difficile, é possível pensar em formulações de microbioma para lidar com outros agentes infecciosos no intestino.

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O papel da alimentação na prevenção do câncer de mama

O câncer de mama é um dos principais problemas de saúde pública no Brasil e no mundo. Com o Outubro Rosa, temos uma ótima oportunidade de conversar sobre a importância de uma alimentação saudável na prevenção da doença.

Quando falamos de câncer de mama, estamos nos referindo a uma série de doenças que têm, em comum, o fato de levar à proliferação descontrolada de células na glândula mamária, às vezes acompanhada da invasão de outros órgãos (processo conhecido como metástase). Além disso, o mesmo tipo de câncer de mama pode se desenvolver em diferentes mulheres por meio de variadas trajetórias metabólicas, celulares e moleculares. Isso dependerá de fatores genéticos, bem como das exposições ambientais e do estilo de vida.

Embora as pesquisas e os tratamentos voltados ao problema tenham avançado consideravelmente nas últimas décadas, não sabemos, ainda, as suas causas exatas, e preferimos falar de fatores que aumentam ou diminuem seu risco. Em 5 a 10% dos casos, o fator genético é o preponderante. Mulheres com mutações no gene BRCA1, por exemplo, apresentam maior probabilidade de desenvolver a doença.

Entretanto, na grande maioria dos casos, o fator ambiental e o estilo de vida são os mais determinantes. Em especial, podemos destacar o padrão da alimentação. Pesquisas mostram que diferentes componentes dos alimentos (macro e micronutrientes, assim como compostos bioativos) podem impactar a saúde celular por meio da modulação de diferentes processos envolvidos com o surgimento do câncer de mama. Os mecanismos de ação são bastante complexos e motivo de investigação científica crescente.

O peso da alimentação nesse contexto ganha cada vez mais relevância, como demonstra a manifestação do Instituto Nacional de Câncer (Inca): “Entre as medidas que contribuem para prevenir o câncer de mama estão a adoção de comportamentos protetores, como seguir uma alimentação saudável, praticar atividades físicas com regularidade, evitar bebidas alcoólicas e manter o peso adequado. Essas ações são capazes de evitar 28% de todos os casos da doença”. Vale a pena reforçar que essa porcentagem não é desconsiderável e um número significativo de mulheres poderia se beneficiar adotando tais medidas.

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O último relatório do Fundo Mundial de Pesquisa do Câncer e do Instituto Americano de Pesquisa do Câncer reforça o papel de uma dieta saudável na prevenção do câncer de forma geral, incluindo o de mama. Consideramos as recomendações dessas instituições as mais robustas hoje para fazer da alimentação uma aliada na redução do risco dessas doenças. Podemos resumir algumas das principais orientações da seguinte maneira:

  • Mantenha o peso adequado;
  • Siga fisicamente ativo;
  • Consuma uma dieta rica em vegetais (frutas, verduras, leguminosas, grãos integrais…);
  • Limite o consumo de fast food e alimentos processados ricos em gordura, amido e açúcar;
  • Modere na carne vermelha e processada;
  • Reduza a ingestão de bebidas açucaradas;
  • Diminua o consumo de bebida alcoólica;
  • Para as mães: amamentem seus bebês.

Tais medidas valem inclusive após o diagnóstico do câncer, com os eventuais ajustes necessários. O documento dessas entidades ainda indica não fumar e evitar a exposição excessiva ao sol para prevenir tumores. Pensando em evitar o câncer de mama, também são bastante úteis as recomendações baseadas em evidências listadas pela Universidade da Califórnia em São Francisco, nos Estados Unidos — faz parte do pacote evitar embutidos e comer mais vegetais.

É importante notar que o câncer de mama pode levar décadas para se desenvolver. Isso indica que sempre é tempo de começar a se cuidar e adotar uma alimentação mais saudável. Além disso, pesquisas experimentais do nosso grupo na Universidade de São Paulo mostram que a dieta da mãe durante a gestação e a amamentação pode afetar o desenvolvimento da glândula mamária do feto e do recém-nascido, influenciando no risco da doença na idade adulta.

De forma bastante interessante, nossos estudos com roedores foram também os primeiros a indicar que a má alimentação do futuro pai pode alterar padrões nos espermatozoides e, com isso, aumentar o risco de câncer de mama nas filhas. Caso esses achados se confirmem em seres humanos, poderemos ter no futuro novas estratégias de prevenção do câncer de mama. Enquanto essas pesquisas avançam, o mais prudente é que as mães e os pais busquem ter uma alimentação equilibrada tanto na fase de pré-concepção como na gestação e na lactação (no caso das mulheres).

Finalizo com a mensagem de que o câncer de mama é uma doença que pode e deve ser prevenida. Neste Outubro Rosa, aproveite para rever seus hábitos alimentares e propagar essas informações para a família e os amigos. A prevenção começa já!

* Thomas Prates Ong é professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), pesquisador do Food Research Center (FoRC) e membro do Conselho Científico do ILSI Brasil

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terça-feira, 27 de outubro de 2020

Quem enfrenta o câncer não deve ficar parado

Cientistas europeus, americanos, canadenses e australianos se uniram em uma grande empreitada: eles consolidaram 31 pesquisas clínicas que investigaram o impacto de suar a camisa no controle da exaustão associada ao câncer. Com base em informações de 4 366 pacientes, ficou claro que manter o corpo em movimento confere disposição mesmo durante o tratamento.

E tem um detalhe: “Treinos supervisionados apresentaram efeitos ainda mais positivos”, conta a epidemiologista Jonna van Vulpen, da Universidade de Utrecht, na Holanda, coautora da revisão.

Poder contra a fraqueza

Um tumor tenta extrair a proteína guardada no músculo esquelético para crescer”, introduz o educador físico Christiano Alves, da Universidade de São Paulo (USP), em entrevista à Agência Fapesp. Isso gera uma perda considerável de massa muscular, que vem acompanhada de fraqueza e fadiga — quadro conhecido como caquexia.

Contudo, em um experimento com ratos, Alves e colegas descobriram que práticas aeróbicas podem neutralizar esse processo e normalizar a função dos músculos. Dados preliminares de seres humanos com câncer de pulmão respaldam a tese.

Além disso, o exercício físico preservou os músculos e prolongou a longevidade em 30% nos experimentos com cobaias

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Precisamos falar sobre a saúde mental da população negra

O Dia Nacional de Mobilização Pró-Saúde da População Negra, celebrado em 27 de outubro, estimula reflexões necessárias sobre questões como a equidade racial nos serviços de saúde e o bem-estar mental desses cidadãos. Devemos lembrar que a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN) foi instituída em 2009 e tem como marco o “reconhecimento do racismo, das desigualdades étnico-raciais e do racismo institucional como determinantes sociais das condições de saúde, com vistas à promoção da equidade em saúde”.

Só faz sentido existir a PNSIPN porque, apesar de sermos um país com 54,9% da população negra (considerando pretos e pardos), se preserva um verdadeiro abismo racial no acesso à saúde, ao mesmo tempo em que se nega a existência do racismo por aqui. Nesse sentido, ela é uma estratégia para dar visibilidade aos efeitos do racismo institucional e trazer discussões para os profissionais e gestores de saúde aprimorarem e democratizarem as políticas públicas.

Um desafio particularmente urgente nesse contexto é o da saúde mental da população negra. Dados apontam que, no país, o suicídio é a terceira principal causa externa de mortes. Uma pesquisa do Ministério da Saúde publicada em 2018 revelou que jovens negros do sexo masculino e idades entre 10 e 29 anos são os que encaram o maior risco de morrer por suicídio. A probabilidade de suicídio nesse grupo é 45% maior do que entre jovens brancos na mesma faixa etária.

Sabemos que esse risco maior está relacionado ao sofrimento psíquico causado pelo racismo estrutural. Ele reforça a necessidade de discutirmos os efeitos do racismo na saúde mental da população negra. Inclusive porque o suicídio é a ponta do iceberg.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é o país com a maior prevalência de ansiedade no mundo e o número 2 nas Américas quando o tema é depressão. O racismo também influencia esses rankings. Situações de discriminação, sejam elas explícitas sejam sutis, produzem estresse e traumas. E esses traumas, acumulados ou vivenciados de maneira mais intensa, podem desencadear, no longo prazo, transtornos psicológicos.

Em pleno século 21, ainda são comuns relatos de episódios de racismo e humilhação vivenciados por pessoas negras na infância, principalmente no ambiente escolar. Além do preconceito no emprego, também causa sofrimento psíquico receber um tratamento diferente nos estabelecimentos (inclusive de saúde), estar mais exposto à violência policial e vivenciar frustrações e constrangimentos em decorrência do pertencimento racial. Tudo isso pode desencadear sentimentos de menos valor e inadequação, com um custo emocional imediato ou posterior.

Pesquisas nesse campo relatam que os negros apresentam maiores índices de estresse crônico e que a experiência do racismo não só está associada ao desenvolvimento de uma identidade racial negativa como ao aparecimento de quadros depressivos. Abundam evidências conectando a vivência do racismo com o surgimento de problemas que vão da ansiedade ao estresse pós-traumático.

Com tudo isso em mente, precisamos estabelecer com urgência ações de fortalecimento da identidade étnico-racial e enfrentar os estigmas e repercussões do racismo na saúde mental. Aliadas a políticas de promoção da igualdade racial, essas medidas também são formas de produzir saúde, bem-estar e qualidade de vida para a população negra.

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segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Nova classe de remédio defende os rins de quem tem diabetes

Mais uma boa notícia na seara do tratamento do diabetes tipo 2. Essa vale especialmente para aquelas pessoas com a doença que também sofrem de insuficiência renal. E não é pouca gente. O diabetes é a principal causa (ou está entre as principais causas) de falência dos rins em diversos países.

A perda da função renal é um problema crônico e tantas vezes progressivo, que pode culminar na necessidade de diálise — quando uma máquina passa a fazer o trabalho dos rins. Além disso, indivíduos com insuficiência renal correm maior risco de enfrentar infarto e insuficiência cardíaca. E, aí, temos outro órgão importante em xeque.

No corpo de quem tem insuficiência renal crônica, observamos o aumento de um hormônio chamado aldosterona. Ele, por sua vez, promove mais inflamação nos rins, perpetuando o processo de redução da função dessa dupla que filtra o sangue.

É com essas noções em mente que devemos apreciar um grande estudo recém-publicado, que testou um novo medicamento capaz de bloquear a ação da tal aldosterona. O nome desse remédio, pertencente a uma classe terapêutica inédita, é finerenona.

Na pesquisa, disponível no conceituado The New England Journal of Medicine, foram incluídos mais de 5 mil pacientes com diabetes tipo 2 e insuficiência renal. Acompanhados por aproximadamente dois anos e meio, os voluntários que usaram a finerenona apresentaram uma redução importante de problemas nos rins e no coração. Tudo isso com poucos efeitos colaterais.

O comprimido de finerenona deve ser tomado uma vez ao dia, mas ainda não está aprovado para venda. Certamente depois dessa publicação seu processo de aprovação pelas agências de saúde vai ser acelerado. Será uma ajuda e tanto para pessoas com diabetes e os rins em apuros.

Cabe ressaltar que já contamos com medidas consagradas na prevenção e no tratamento da insuficiência renal e cardíaca. É o caso de controlar a glicose, o peso e a pressão arterial — o que pode exigir outras medicações já disponíveis —, exercitar-se regularmente, comer de forma equilibrada e abolir o tabagismo.

 

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Como o paciente com câncer está convivendo com a Covid-19?

Desde quando a pandemia chegou ao Brasil, em março deste ano, as pessoas passaram a conviver com a necessidade de se preservar. O “fique em casa” virou lema do momento. Mas uma parcela da população simplesmente precisava sair de casa para dar continuidade aos seus cuidados com a saúde. Estamos falando dos pacientes em tratamento do câncer. Mesmo em meio a uma pandemia, a maior parte deles não pode interromper o tratamento. Precisa ir ao hospital para sessões de quimioterapia, radioterapia, procedimentos cirúrgicos, consultas e exames. 

Esse foi o caso do advogado Arthur Melo. No fim de 2019, ele recebeu a notícia de que o tumor que tinha tido seis anos antes, um sarcoma de Ewing, tinha retornado e precisaria de um novo tratamento. Fez as malas em Maceió, onde morava, e se mudou para São Paulo, para se tratar no A.C.Camargo Cancer Center. Quando a pandemia começou, ele estava no auge do tratamento, tinha terminado as sessões de radioterapia e ia começar a quimioterapia. 

Tudo aquilo que a gente não conhece, que a gente não enxerga, dá medo. Além disso, a Covid-19 é nova para todo mundo, ninguém sabe como o organismo vai lidar com a doença. Eu cogitei mudar meu tratamento inúmeras vezes, conversei muito com meu médico e com toda a equipe e foram eles que me explicaram e me convenceram de que parar o tratamento não era uma opção. Entendi que é necessário se proteger do vírus e tratar o câncer. Um deles vem de fora e o outro está dentro de você. É preciso levar isso muito a sério”, afirma Arthur.

Para Maria Teresa Lourenço, Head do Departamento de Psiquiatria do A.C.Camargo Cancer Center, os medos do paciente oncológico envolvendo a pandemia vão além do risco para a sua própria saúde, mas inclui também aquelas pessoas que convivem com ele. “O paciente com câncer recebe uma orientação, um tratamento e, aos poucos, adquire segurança. Quando entra a pandemia, o risco não é mais só dele, é de toda a família. Assim, existem pacientes que colocaram o tratamento como prioridade e pacientes que ficam na dúvida se continuam indo ao hospital ou não”, diz.

Arthur confirma que esse foi um dos seus medos, já que seus pais, que fazem parte do grupo de risco para a Covid-19, estavam junto com ele, no mesmo apartamento. “Mas, felizmente deu tudo certo. Eu finalizei meu tratamento em julho, com segurança. Dentro do A.C.Camargo eu me sentia numa bolha de proteção, já que eles tomam todos os cuidados necessários para evitar qualquer contaminação e, do lado de fora, eu também me preocupei em fazer a minha parte, só saindo para o necessário, usando máscara e álcool em gel o tempo todo”, conta.

<span class="hidden">–</span>Arquivo/Reprodução

Rotina

Mesmo durante o tratamento e com a necessidade de ficar em casa, Arthur buscou manter uma rotina de trabalho e atividade física. Conversou com o síndico do prédio em que mora, que autorizou que ele levasse alguns equipamentos da academia do prédio para o seu apartamento e passou a atender seus clientes por vídeoconferência.  “Higienizei todos os equipamentos assim que eles chegaram e mantive a rotina de exercício, consegui até ganhar massa magra durante a quimioterapia fazendo exercício em casa. No trabalho, diminuí o ritmo, mas não deixei de atuar”, conta.

Para Maria Teresa, é essencial que cada paciente possa construir a sua rotina, dentro da sua realidade e das orientações que recebeu da sua equipe médica. “Cada paciente está passando por uma etapa, tem um tipo de tratamento, se encontra em uma fase específica. O importante é, primeiro, seguir à risca a orientação de seu médico e, depois, lembrar que é fundamental cuidar da cabeça, ter uma rotina, tomar sol, se mexer, nem que seja dentro de casa”, explica. “Nunca devemos esquecer da saúde mental e pedir ajuda, se necessário, também é muito importante”, completa.

Outro ponto crucial é não deixar que a ansiedade faça o paciente perder a capacidade de raciocinar e continuar vivendo. “Eu sou a prova viva de que existe vida antes, durante e depois do câncer. Quando finalizei meu tratamento, retornei a Maceió e aos poucos estou retomando a minha rotina aqui. Voltei para o escritório para trabalhar, mas para isso fazemos uma higienização frequente aqui e somente eu e meu sócio estamos vindo, o atendimento aos clientes ainda está sendo feito de forma on-line”, conta Arthur, que reforça que também mantém a “malhação” em dia. 

Reabertura

Há alguns meses, o comércio começou a reabrir nas principais cidades do Brasil. Junto com essa reabertura aumentou o número de pessoas circulando na rua e, com isso, o medo de alguns pacientes, que precisam sair de casa para seguir com seus tratamentos. Ivan França, Head do Departamento de Infectologia do A.C.Camargo Cancer Center, reforça a importância de manter o tratamento, mas também os cuidados com higiene e distanciamento para evitar uma contaminação pelo novo coronavírus.

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“Essa reabertura pode dar uma sensação de que as coisas estão voltando ao normal, mas ainda precisamos ter cuidado. Os pacientes precisam sair de casa para passar em consulta, fazer exames, sessões de quimioterapia, radioterapia ou procedimentos cirúrgicos, mas sempre mantendo o uso da máscara, a higienização das mãos com frequência e respeitando o distanciamento das outras pessoas. Aqueles que estão em tratamento que afetam mais a imunidade, como a quimioterapia, precisam ter um cuidado ainda maior e evitar saídas desnecessárias de casa ou receber visitas, por exemplo”, diz.

Para Maria Teresa, não é possível esperar e deixar que o ambiente e as outras pessoas cuidem da sua segurança. “O paciente com câncer tem que ter a clareza e entender quais são seus limites. Estabelecer a hora de sair, avaliar os locais que pode frequentar e, o mais importante, sempre se proteger. Promover bons momentos, com responsabilidade, é sempre a melhor saída”, explica. 

Medidas de proteção

Há meses que o A.C.Camargo Cancer Center redobrou os cuidados e passou a trabalhar ainda mais intensamente para aumentar a segurança de pacientes, acompanhantes e colaboradores.

Veja algumas das medidas: 

1 – Triagem virtual: antes de ir ao Pronto Atendimento do A.C.Camargo, o paciente tem a opção de acessar a plataforma Pronto Atendimento Digital e responder a uma série de questões. Assim, somente os casos que realmente precisam vão até o local e evita-se que o Pronto Atendimento fique saturado com casos nãourgentes.

2 – Triagem nas recepções: enfermeiras devidamente paramentadas realizam a triagem de todos que chegam à Instituição, pacientes e acompanhantes. É aplicado um questionário que avalia sintomas respiratórios e a temperatura é medida. Casos suspeitos são encaminhados para um fluxo completamente separado dos demais pacientes.

3 –  Consultas, exames, sessões de quimioterapia e radioterapia também contam com cuidados específicos, como a intensificação da higienização dos equipamentos, maior intervalo entre os horários e o distanciamento nas recepções, para aumentarem a segurança do paciente durante seu tratamento. 

4 – Internação protegida: os pacientes que precisam de internação têm à disposição apartamentos, enfermarias e leitos na Unidade de Terapia Intensiva devidamente preparados, uma vez que há áreas específicas e isoladas para pacientes com suspeita ou diagnóstico do novo coronavírus.

5 – Exame de RT-PCR: pacientes com procedimento cirúrgico marcado são testados para a Covid-19 dias antes do procedimento e orientados a permanecer em isolamento até a data agendada. O procedimento só é realizado se o resultado for negativo ou se, mesmo com o resultado positivo, a equipe médica avaliar o procedimento como extremamente necessário naquele momento.

Para Arthur foram exatamente essas medidas que fizeram com que ele tivesse coragem de seguir em frente. “Eu estou em um lugar que confio. Mesmo quando São Paulo era o epicentro do coronavírus no Brasil, me sentia protegido dentro do A.C.Camargo. Eu sigo com medo, assim como todo mundo, mas sei que ainda preciso passar por exames e continuar é a melhor e a única opção. Em outubro estarei lá para passar pela minha rotina de consultas e exames como combinado com a minha equipe médica. Confiar faz toda a diferença”, conclui. 

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Cuidado com a cafeína durante a gravidez

Uma revisão de 48 estudos observacionais e outras análises publicada no jornal BMJ Evidence-Based Medicine traz um alerta para as grávidas: a maioria das evidências indica que a ingestão de cafeína (principal componente do café) eleva o risco de problemas nessa fase, como aborto espontâneo, morte do feto, baixo peso ao nascer ou tamanho pequeno para a idade gestacional.

Para os autores da investigação, o correto seria evitar a substância na gestação. A nutricionista Marisa Coutinho, do Hospital e Maternidade Santa Joana, em São Paulo, conta que os possíveis efeitos têm a ver com o poder estimulante da cafeína.

Mas, segundo ela, o segredo é não passar de 100 miligramas e não ingerir todo dia. “As pessoas costumam focar muito no café, mas devemos lembrar que outros produtos levam a substância”, frisa. Sem falar que a concentração também varia dentro de um mesmo alimento.

Onde está a cafeína

Embora o café seja o reduto mais famoso da substância, está longe de ser o único. Por isso, grávidas não precisam considerar todos os alimentos com cafeína ingeridos na rotina. Veja abaixo.

+ Refrigerante de cola (300 mililitros)
35 mg de cafeína

Vale frisar que a bebida de guaraná não é isenta: tem uns 4 mg de cafeína

+ Chás verde e preto (200 mililitros)
30-60 mg de cafeína

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O mate também possui cafeína — de 20 a 30 mg

+ Chocolate ao leite (40 gramas)
10 mg de cafeína

Atenção: quanto maior o teor de cacau, mais cafeína

+ Energéticos (250 mililitros)
80 mg de cafeína

Algumas dessas bebidas concentram um teor até maior da substância

+ Café filtrado (200 mililitros)
80 mg de cafeína

Já uma xícara de expresso (30 ml) leva cerca de 75 mg do composto

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