quarta-feira, 1 de julho de 2020

De cloroquina a corticoides: os remédios mais falados contra o coronavírus

A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), uma das entidades médicas que vêm liderando discussões sobre o combate ao coronavírus (Sars-CoV-2), publicou um documento com análises e recomendações sobre oito classes de tratamento que estão sendo muito difundidas durante a pandemia. O compilado traz informações sobre cloroquina, corticoides, antiparasitários (como a ivermectina), anticoagulantes, plasma convalescente e até suplementos vitamínicos, entre outros medicamentos.

Com base nesse material, destacamos os principais pontos sobre cada um. Confira:

1. Cloroquina ou hidroxicloroquina

  • Os principais estudos clínicos randomizados e com grupo controle — o tipo de pesquisa necessário para averiguar a eficácia e a segurança de um medicamento contra uma doença qualquer — não apresentaram benefícios da dupla em casos graves da Covid-19. Efeitos colaterais severos, como arritmias, foram relatados.
  • Também não há evidências sérias de que a associação de hidroxicloroquina com azitromicina traga vantagens para esses pacientes. Pelo contrário: a combinação poderia acentuar reações adversas ao coração.
  • O uso da cloroquina ou da hidroxicloroquina em casos leves segue sendo avaliado. No momento, não há evidências que justifiquem sua indicação nesse cenário.
  • A SBI, em consonância com a Organização Mundial da Saúde, a FDA (agência reguladora de medicamentos dos Estadod Unidos) e outras entidades, recomendam que essas drogas não sejam utilizadas contra o coronavírus, a não ser em pesquisas clínicas.

2. Corticoides

  • Um grande estudo randomizado britânico demonstrou redução de risco de morte em pacientes graves com Covid-19 que receberam dexametasona, um tipo de corticoide. Como o estudo ainda não foi publicado, os dados carecem de uma investigação pormenorizada.
  • Com base nesse mesmo trabalho, a SBI apresenta uma indicação básica da aplicação dessa medicação. Mas não faz uma recomendação expressa.
  • Não há quaisquer evidências de que corticoides ajudem nas formas leves ou moderadas da doença. Segundo a SBI, eles não devem ser receitados nessas situações. O uso preventivo e a automedicação são contraindicados — e podem até agravar um episódio inicial de infecção por Sars-CoV-2.

3. Antivirais

  • A associação de lopinavir e ritonavir, empregados no passado contra o HIV, não demonstrou benefícios em pelo menos dois estudos clínicos randomizados com grupo controle. A SBI recomenda não aplicar essa estratégia em pacientes com o novo coronavírus.
  • Já o remdesivir parece diminuir o tempo de internação em quadros moderados ou graves. Acontece que o fármaco ainda não foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Portanto, só pode ser utilizado em pesquisas clínicas.

4. Antiparasitários

  • Tanto a ivermectina como a nitazoxanida só exibiram algum grau de eficiência em células no laboratório. Não há comprovação de benefícios ou de segurança para pacientes com coronavírus. Cabe destacar que muitas das drogas que vão bem nas pesquisas iniciais infelizmente falham conforme avançam para os experimentos com seres humanos.

5. Tocilizumabe

  • Ele é um remédio que regula a atuação do nosso sistema imunológico. Embora levantamentos observacionais sugiram alguma vantagem, não há estudos randomizados publicados até agora. Isso deve acontecer nos próximos dias. Até lá, o tocilizumabe segue como uma promessa, e não mais do que isso.

6. Anticoagulantes

Pacientes hospitalizados com coronavírus têm um risco maior de apresentar trombose. Na ausência de contraindicações, a SBI afirma que a maioria desses indivíduos recebe anticoagulantes para prevenir as tais tromboses. Mas não há uma indicação de rotina, muito menos para pessoas com casos leves ou em atendimento ambulatorial.

7. Plasma convalescente

• O uso do plasma de pacientes recuperados está sendo avaliado em estudos clínicos randomizados. Levantamentos anteriores sugerem algum grau de eficiência e segurança.

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8. Vitaminas e suplementos alimentares

• A SBI é taxativa: “Não há comprovação de benefício do uso de vitaminas C ou D, nem de suplementos alimentares, como zinco, exceto em pacientes que apresentam hipovitaminose ou carência mineral”. Ou seja, a ingestão desses comprimidos só deve ser feita após consulta com um profissional e constatação de que há algum déficit no seu organismo.

Recados finais

A SBI reforça que devemos ter novidades sobre esses e outros remédios nas próximas semanas. Isso ajudará a compreender o que realmente funciona e o que não funciona no tratamento do novo coronavírus. Há inclusive uma iniciativa nacional — a Coalizão Covid Brasil — que vem testando diferentes estratégias, em diferentes contextos da doença.

Além disso, a entidade faz um alerta aos profissionais de saúde: “Não podemos colocar em risco a saúde da população brasileira com orientações sem evidência científica. A avaliação do uso de qualquer medicamento fora de sua indicação aprovada (off-label) deve ser uma decisão individual do médico. […] Porém, é vedada a publicidade sobre tal conduta”.

Citando resoluções do Conselho Federal de Medicina (CFM), o documento da SBI destaca que profissionais de saúde não podem divulgar, fora do meio científico, um tratamento que ainda não esteja expressamente reconhecido de maneira científica por um órgão competente. Em outras palavras, especialistas não deveriam defender de maneira pública o uso de remédios sem comprovação.

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