quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Doenças crônicas não podem ser esquecidas durante a pandemia

A cada ano, as doenças crônicas não transmissíveis, grupo de enfermidades que não são passadas de pessoa para pessoa e que progridem mais lentamente com o tempo, são responsáveis por mais de dois terços de todas as mortes no mundo inteiro. Quase um milhão de brasileiros morreram de problemas cardiovasculares e diabetes, entre outras doenças crônicas, em 2016, o que demonstra que, mesmo focados na Covid-19, não podemos perder de vista essas condições que tanto afetam nossa população.

Em nível mundial, 15 milhões de pessoas morrem dessas doenças prematuramente entre as idades de 30 e 69 anos todos os anos, sendo que 85% desses óbitos ocorrem em países emergentes como o Brasil. Tragédia que poderia ser amplamente evitada, inclusive para minimizar seu trágico impacto nessas comunidades: desde um enorme ônus emocional e financeiro para os familiares até a perda de produtividade para o país.

Em setembro de 2019, especialistas dos principais países emergentes se reuniram para analisar o impacto das doenças crônicas não transmissíveis, discutir os desafios no combate a elas e oferecer saídas pragmáticas. O diálogo e as deliberações, feitas a partir do Fórum de Especialistas, organizado pela Pfizer Upjohn, foram recentemente publicados no periódico revisado por pares Journal of Multidisciplinary Healthcare. O artigo destaca que abordagens colaborativas multilaterais com soluções adaptadas às necessidades locais são fundamentais para reduzir o fardo dessas doenças em nações como o Brasil. Logo abaixo listamos algumas das principais propostas nesse contexto.

O papel do setor privado

Uma reunião de cúpula realizada durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, em 2019, reconheceu a importância e a complexidade das doenças crônicas não transmissíveis e os desafios que os governos enfrentam trabalhando sozinhos para controlá-las. Além da chamada para fortalecer ainda mais os esforços de enfrentamento dessas condições, a reunião encorajou colaborações entre os setores público e privado.

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O Fórum de Especialistas, que ocorreu em setembro do mesmo ano, também vislumbrou a possibilidade de envolvimento do setor privado no fortalecimento dos sistemas de saúde, em diversos pontos de contato ao longo da jornada do paciente.

Educação em saúde

Empoderar os pacientes ao elevar seu nível de educação em saúde entre populações de risco e entre os portadores de doenças crônicas pode intensificar o envolvimento das pessoas na prevenção e nos cuidados. O conhecimento sobre fatores de risco continua limitado localmente, sendo que a maioria dos cidadãos é diagnosticada pela primeira vez após um evento agudo (como um infarto).

Essas pessoas continuam sob risco de desenvolver futuras complicações devido à presença de comorbidades que exacerbam as deficiências funcionais permanentes. Em comparação aos países ricos, essa situação é crítica no Brasil pelo fato de as doenças crônicas não transmissíveis ocorrerem cedo entre a população economicamente ativa.

Estigma como barreira ao tratamento

A questão da saúde mental continua sendo um importante elemento na batalha contra as doenças crônicas. Embora problemas emocionais sejam reconhecidos como uma grande parcela do ônus da doença, o estigma e as barreiras de acesso em relação a tratamentos psiquiátricos são expressivos em vários países em desenvolvimento, onde a desigualdade socioeconômica e a carência de investimentos em saúde para a população são uma questão antiga.

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Além disso, a abordagem tradicional de atendimento especializado para doenças mentais nos sistemas de saúde impede o tratamento integrado das doenças crônicas não transmissíveis, em que mazelas emocionais e físicas tendem a coexistir.

Uso de tecnologia

Por meio dos smartphones, os pacientes e seus médicos podem ter acesso a conteúdos educativos, mensagens e consultas a fim de facilitar mudanças comportamentais bem-vindas à prevenção e à adesão ao tratamento. O setor privado já está bem equipado para oferecer essa tecnologia, ajudando e treinando os profissionais de saúde em atualizações clínicas e melhores práticas de controle de doenças, criando fluxos de trabalho automatizados e oferecendo recursos relevantes para auxiliar nessa conscientização. Ainda há muito a fazer pelo setor público nesse aspecto.

Compartilhamento e geração de dados

O Fórum de Especialistas também destacou que a viabilidade financeira é um elemento crítico na utilização de recursos de saúde e consequentes melhorias nos resultados sanitários de uma comunidade. No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece atendimento gratuito para toda a população. No entanto, o acesso ao tratamento ainda é influenciado pelo status socioeconômico e demográfico das doenças, que variam de acordo com cada região. Assim, a geração e a difusão dos dados são essenciais para o refinamento das políticas de saúde.

A geração de dados não precisa ser limitada à epidemiologia, podendo incluir uma variedade de áreas, desde a estimativa de fatores de risco até evidências reais de utilização de recursos de saúde e seus impactos. O setor privado pode promover isso por meio de pesquisas e também se envolver no compartilhamento das informações. Estudos englobando o setor público e seus pacientes, por sua vez, podem ajudar os especialistas a se certificar de que o desenho das pesquisas e das ações é relevante, ético e favorável àquela população.

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A importância de parcerias multissetoriais

Para demonstrar colaborações efetivas do setor privado, a Pfizer Upjohn firmou uma parceria com uma importante instituição acadêmica, o Colégio Americano de Cardiologia; com uma sociedade civil, a Aliança para DNTs (doenças crônicas não transmissíveis); e com uma sociedade profissional, a Federação Mundial do Coração. Juntos, lançaram a Academia DNT, uma plataforma online interativa que oferece informações e dicas práticas para profissionais de saúde aperfeiçoarem suas competências em prevenção e controle desses problemas — o conteúdo, por ora, está disponível em inglês.

À medida que desafios como a Covid-19 surgem, precisamos continuar priorizando a prevenção e os cuidados em relação às doenças não transmissíveis, mediante planos de ação direcionados especificamente às necessidades do Brasil. Só assim mitigaremos o crescente ônus que essas doenças geram anualmente.

* Dr. Kannan Subramaniam é diretor médico sênior de doenças não transmissíveis da Upjohn, divisão da Pfizer focada em doenças crônicas não transmissíveis;

Dra. Alessandra Carvalho Goulart é epidemiologista do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (USP);

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Dr. Yuan Pang Wang, é pesquisador adjunto sênior do Departamento de Psiquiatria da USP



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