terça-feira, 1 de setembro de 2020

Tratamento não-hormonal seria eficaz contra um sintoma da menopausa

Os resultados iniciais de um estudo realizado pela Universidade de Colorado, nos Estados Unidos, e publicado no periódico científico Menopause sugerem que um novo remédio oral — o fezolinetante — conseguiria minimizar as ondas de calor características da menopausa, sem recorrer a hormônios. O medicamento, do laboratório Astellas, seria uma saída para mulheres que não podem fazer reposição hormonal.

Essa é a segunda fase de testes com seres humanos — ou seja, a medicação ainda deve passar por mais pesquisas antes de virar um tratamento comprovadamente eficaz. Mesmo assim, os dados disponíveis no momento animam. “As ondas de calor, conhecidas como fogachos, incomodam muito nesse período. Esse foi um trabalho bem feito, publicado em uma revista respeitada”, comenta o endocrinologista Ricardo Meirelles, presidente da Comissão de Comunicação da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem).

Meirelles explica que, na menopausa, a produção de progesterona e estrogênio é muito comprometida, Isso porque as mulheres param de ovular, e a fabricação desses hormônios está ligada ao funcionamento dos ovários.

“É aí que elas começam a apresentar os conhecidos calores, além do ressecamento de pele e vagina e da perda de massa óssea”, completa o endocrinologista.

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A melhor forma de combater esse contratempo é por meio da reposição hormonal. Só que essa terapia tem contraindicações. Mulheres com histórico de câncer de mama ou problemas hepáticos graves, por exemplo, não devem recorrer a ela.

“A qualidade de vida cai muito pela falta dos hormônios. Essa nova medicação pode ser muito útil em cenários como esse”, informa o especialista.

Como o remédio funciona contra a menopausa

Meirelles explica que, embora os sintomas sejam provocados pela diminuição de estrogênio e progesterona, eles são mediados por outros mecanismos do organismo. “O fezolinetante atua sobre um desses mecanismos que está associado ao fogacho: o receptor da neurocinina 3”, relata.

A desvantagem é que esse fármaco parece tratar somente as ondas de calor. Caso seja aprovado, as pacientes que aderirem a ele ainda precisarão recorrer a outros métodos para não sofrer com o ressecamento e a perda de massa óssea, por exemplo.

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“É como uma pessoa que tem febre e toma um antitérmico. O remédio não cura a doença, mas ajuda a baixar a temperatura”, raciocina o endocrinologista.

Como o estudo foi feito

Os pesquisadores selecionaram 352 mulheres de 41 a 65 anos na menopausa que apresentavam ondas de calor moderadas ou graves.

Por 12 semanas, parte do grupo tomou o fezolinetante uma ou duas vezes por dia, em diferentes dosagens. A outra adotou o mesmo protocolo, mas com um placebo — uma substância sem efeito nenhum.

Após analisar a gravidade e a frequência dos fogachos, os cientistas constataram uma diminuição considerável com o fezolinetante. Para ser mais exato, em 80% da turma que recebeu essa droga, os episódios de ondas de calor caíram pela metade. Nas mulheres que receberam o placebo, esse índice ficou em 58,5%.
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Em geral, a pílula foi bem tolerada. Os efeitos colaterais mais comuns foram transtornos gastrointestinais, como diarreia e náuseas — não houve notificação de reações graves.

A próxima etapa de pesquisas pretende comparar o fezolinetante com a reposição hormonal. Espera-se que os testes terminem até o final de 2020.

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Opções para as brasileiras

Apesar de ser o primeiro remédio contra as ondas de calor que age a partir do receptor da neurocinina 3, já existem alternativas menos específicas que são empregadas para essa situação. Livres de hormônios, elas são empregadas originalmente em outras doenças, mas estão disponíveis no Brasil.

“Nós utilizamos principalmente antidepressivos, como a venlafaxina. Outro princípio ativo bastante usado é a gabapentina, voltada para tratar problemas dos nervos periféricos”, informa o profissional.

O ponto mais importante é visitar um médico antes de procurar qualquer remédio. “Jamais realize um tratamento por conta própria. O que deu certo para uma amiga pode ser prejudicial para você”, finaliza o especialista.



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