segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Precisamos ampliar e manter atualizados os doadores de medula óssea

Brincar, estudar, praticar esportes, aprender todos os dias e não ter preocupações. Essa é a jornada doce da infância e que muitas vezes é interrompida pelo câncer. Todos os anos, 12 mil crianças e jovens brasileiros de até 19 anos são diagnosticados com câncer infantojuvenil, uma notícia que modifica completamente a sua rotina bem como a dinâmica familiar.

Dos tipos de câncer mais frequentes entre as crianças estão as leucemias e os linfomas – juntos, eles representam quase 48% dos diagnósticos. Nesses casos, o transplante de medula óssea pode ser uma valiosa opção quando as doenças não respondem bem ao tratamento com medicamentos ou quando recidivam, isto é, retornam. Devemos ter em mente que o transplante pode salvar vidas.

Em crianças, os transplantes são geralmente do tipo alogênico, quando as células-tronco injetadas para a reconstrução da medula óssea vêm de um doador saudável. O doador pode ser um irmão com as mesmas características de medula óssea, um voluntário também compatível ou um familiar que só tenha metade de compatibilidade. Para cada paciente e cada doença, a equipe médica avalia se é melhor um ou outro tipo de doador.

De um modo geral, os transplantes realizados no país, tanto para pacientes infantis como adultos, sofreram uma queda importante com a pandemia de Covid-19. Essa redução no número de doações é um cenário mundial, mas há expectativa de que os procedimentos voltem ao patamar adequado em breve.

É muito triste quando um doador com a mesma tipagem de medula é encontrado, mas o registro não consegue contatá-lo, algo não tão incomum por aqui. Por isso é fundamental conscientizar as pessoas da importância da atualização de seu cadastro como doadores de medula óssea. Esse processo é capaz de salvar a vida de alguém que está doente e conta com o irmão de sangue já identificado.

Embora o banco de doadores de medula óssea no Brasil seja o terceiro maior do mundo, ainda é preciso ter mais diversidade entre os doadores: cada raça ou etnia tem alguns tipos e características de medula óssea mais frequentes. A maior chance é sempre a de achar um doador entre pessoas que têm antepassados que vieram do mesmo lugar do mundo.

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Além disso, os resultados dos transplantes com doadores que são homens jovens se mostram muito melhores — sem nenhum preconceito de nossa parte! —, apesar de o maior número de voluntários envolver mulheres de meia idade.

Como ser um doador?

Para ser um doador de medula óssea, é preciso primeiro se cadastrar em um hemocentro. Isso é feito com a coleta de dois tubinhos de sangue que serão analisados para verificar a tipagem da medula. Caso um paciente com as mesmas características precise de um transplante, o doador é chamado para confirmar a tipagem e sua disposição em ser doador — decisão que é feita após avaliação e orientação médica. Dessa forma, é muito importante manter seus dados sempre atualizados com o hemocentro.

A doação de medula em si é um procedimento seguro, rápido e simples, mas requer anestesia geral e um centro cirúrgico. Não envolve nenhum corte, mas uma punção no osso da bacia. Tudo leva em torno de 90 minutos. Em geral, o doador tem alta hospitalar no dia seguinte.

Uma alternativa é a doação de células-tronco do sangue periférico pelo sistema de leucoaférese, muito semelhante à doação de plaquetas. Os pacientes transplantados também precisam da transfusão de sangue e plaquetas. Só que cada doação de plaquetas dura menos de uma semana. Assim, é necessário ter sempre doadores durante o ano inteiro, principalmente em vésperas de feriados ou férias, quando os estoques de sangue caem sempre para níveis críticos. Não tenha dúvida: doar sangue e plaquetas voluntariamente vai ajudar muitas pessoas!

Reforço, então, o convite para você se tornar um doador de medula óssea e se cadastrar em um hemocentro. E se lembrar de manter seus dados sempre atualizados. Pode ser que a esperança de vida de alguém esteja ligando para você.

* Adriana Seber é hematologista do Hospital Samaritano Higienópolis, em São Paulo, e membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea e da Associação de Medula Óssea do Estado de São Paulo (AMEO)

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